Observatório e plataformas de imóveis confirmam tendência de subida das rendas. Quem não desiste da formação começa a procura mais cedo e sujeita-se ao que encontrar. Mercado paralelo tem muito peso e impede acesso de famílias a apoios e deduções.
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O preço do alojamento para alunos do Ensino Superior deslocados não pára de aumentar, condicionando as escolhas e condições em que os futuros doutores se formam. Há quem faça até quatro horas diárias em transportes, quem aceite quartos sem condições nem recibo no mercado paralelo, pague várias cauções e comece a procurar um lugar para dormir antes de ter a certeza de estar colocado.
Francisco Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto, diz que os problemas do alojamento, escasso e caro, é “o maior entrave à frequência do Ensino Superior” e causa um efeito “perverso de elitização”. Há dias, encontrou um jovem de Paredes que testava o caminho que terá de fazer diariamente para estudar no Porto: “Duas horas de viagem para cada lado”, que causarão “desgaste”.
Mariana Barbosa, líder da Federação Académica de Lisboa, refere que as residências públicas dão apenas para “14% dos deslocados” e os outros têm de se sujeitar ao que existir: quarto “sem recibos”, “partilhar apartamento com mais 15 pessoas” e rendas a “aumentar de um mês para outro”. Há quem não se candidate, escolha o curso “condicionado” pelo preço dos quartos ou “abandone” a meio.
Em Coimbra, o presidente da Associação Académica, Renato Daniel, fala numa “ansiedade muito grande” que levou muitos a procurarem casa ainda antes das colocações, que saíram ontem. Em Aveiro, o congénere Wilson Carmo relata que há quem se sujeite a pagar “até três meses de renda à cabeça”, meses de julho e agosto em que não há aulas e quem se desloque de comboio de “Coimbra e Porto”.
Também há quem aceite “quartos menos dignos” por falta de alternativa, acrescenta Fernando Gonçalves, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. E, no Algarve, Rita Tavares revela que há municípios a pagarem propinas para tentar “amenizar” os custos.
Mercado paralelo
O aumento não parece dar tréguas, a avaliar pelos dados do Observatório do Alojamento Estudantil e por informações avançadas ao JN por plataformas de imobiliário. Além disso, também se nota uma diferença grande entre os valores mínimos e máximos. De acordo com o Observatório, no mês passado, em Lisboa os valores variaram de 270 a 715 euros, no Porto de 218 a 600 euros, em Aveiro de 250 a 500 e em Braga de 196 a 450 euros.
Várias associações dizem, porém, que os preços que encontram no terreno são mais elevados, algo a que não será alheio o facto de existir um mercado paralelo ao qual é difícil escapar. No ano passado, segundo Francisco Fernandes, “60% dos estudantes [do Porto] afirmavam viver em quartos sem recibo”.
Elisabete Policarpo, jurista da Associação para a Defesa do Consumidor-Deco, alerta, no entanto, que os alunos têm de se registar como deslocados no portal da Autoridade Tributária (AT), devem ter contratos de arrendamento “escritos e comunicados à AT e fatura-recibo da renda, para que seja possível a dedução da renda no IRS e terem acesso aos apoios públicos”.
A aumentar a pressão sobre o alojamento estudantil estará, ainda, o facto de haver pessoas que já não são estudantes e estão em residências privadas ou quartos.
Turismo e imigração
Nuno Magalhães, consultor da Remax Prestige, em Lisboa, adianta que, apesar de a imobiliária não arrendar quartos, recebe frequentemente pedidos de estudantes e imigrantes. “A imigração compete diretamente com os estudantes por quartos e apartamentos”, algo que considera “normal” pela maior acessibilidade financeira deste alojamento e flexibilidade por não terem contratos de longo prazo.
Em Aveiro, o turismo e a imigração também reduzem as vagas, refere António Benjamin, da Largeland Imobiliária. Há “casais estrangeiros a arrendar quartos em apartamentos que dividem com estudantes”.
SABER MAIS
Olx e Imovirtual
Em julho de 2024, foram publicados 3081 anúncios de quartos no Imovirtual (mais 40% que em 2023) e 6649 no Olx (mais 67%). O preço médio foi de 570 euros, mais 6% face a 2023, referiu Sylvia Bozzo, diretora de marketing.
Idealista
Um estudo do Idealista indica que a oferta de quartos subiu 57% no segundo trimestre de 2024, face a 2023. Os preços também subiram, sobretudo em Faro (33%), Aveiro (29%) e Viseu (25%).
Uniplaces
A Uniplaces apresenta desde quartos a 200 euros a apartamentos T8 por 9000 euros na capital. A procura começa em maio, com pico de junho a julho.
Residências
15 900 camas, aproximadamente, existem nas residências públicas, insuficiente até para os 49 963 colocados na primeira fase.