Autarcas do Interior apertam malha para evitar contágios com vinda de emigrantes
Autarcas oferecem testes, fecham piscinas e parques de campismo e impedem festas. Medo da nova variante justifica cautelas.
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O regresso dos emigrantes este verão está a gerar preocupação e pedidos de cautela entre os autarcas do Interior do país, sobretudo de regiões onde a variante delta ainda não se impôs e o número de novos casos de covid não limita o quotidiano das populações, ao contrário do que sucede em quase toda a faixa litoral. São "bem-vindos", mas é preciso cumprir regras e, se possível, vir já com a vacinação completa. Sem controlos na fronteira terrestre e com a maioria a chegar de automóvel, há câmaras, como Fundão e Oleiros, que vão distribuir testes rápidos pelas aldeias. As romarias estão proibidas e há espaços públicos fechados como forma de evitar concentrações.
O presidente da Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes, Artur Nunes, admitiu que não há medidas concertadas e específicas para os emigrantes, ainda que tenham tomado decisões para evitar possíveis contágios, como a proibição de autorizar a realização de eventos, atividades ou manifestações de qualquer ordem em espaços abertos, vias públicas ou espaços e vias privadas equiparadas a vias públicas até 30 de setembro.
"Foi uma medida dura, tomada em maio, atempadamente, concertada entre o conselho intermunicipal da CIM, a Autoridade Regional de Saúde e a Diocese de Bragança-Miranda. Fomos criticados por muitos. Foi a decisão certa face ao aumento de casos positivos que se têm verificado nos últimos dias", explicou o também autarca de Miranda do Douro, onde o Gabinete de Apoio ao Emigrante está a procurar sensibilizar os que chegam.
Em Mirandela, a Câmara tem alertado residentes e emigrantes para a necessidade de precaução. "Temos passado informação sonora através da rádio local e com uma viatura da Proteção Civil Municipal que circula pelas aldeias e passa na feira todas as quintas-feiras", referiu a autarca, Júlia Rodrigues, preocupada com o impacto que o regresso dos emigrantes, mas também dos "muitos jovens" que estudam fora da região, possa ter em mais contágios.
No Sabugal, António Robalo, presidente do município, decidiu suspender a Capeia Raiana, uma manifestação tauromáquica específica de algumas povoações do concelho, próximas da fronteira com Espanha, e as festividades de verão como forma de "reduzir a atratividade da geração mais jovem". E comprou testes para distribuir.
Ajudar a economia local
Já o presidente da Câmara de Vimioso, Jorge Fidalgo, admite que tomou "medidas duras". "Temos as piscinas descobertas e o parque de campismo fechados ao público, bem como outros serviços potenciadores da circulação do vírus. Muita gente discorda, mas julgamos que podiam ser focos de contaminação", disse.
Em Monção, António Barbosa insiste que os emigrantes "são bem-vindos, até porque a economia local necessita da emigração". E confia que com "tantos cuidados que estão a existir em todos os países da União Europeia, e com a forma como o processo de vacinação está a decorrer em todos os países", não serão necessários controlos suplementares.
Miguel Alves, autarca de Caminha, também está otimista com a vacinação e lembra que "os emigrantes têm dado sinais de saberem cumprir as regras que estão instituídas em Portugal e em cada concelho, quando há diferenças".
As pessoas estão ansiosas por vir. Já têm muitas saudades
Antes mesmo de agosto chegar, o casal Miguel e Goreti Ferreira fez as malas e rumou a São Julião de Palácios, aldeia do concelho de Bragança, a terra natal, para gozar as tão desejadas férias em Portugal. "As saudades pesam sempre. Apesar de eu vir ao nosso país várias vezes por ano, o verão é uma época especial para voltar e rever família e amigos", explicou Miguel, emigrante em França há 32 anos.
Agosto poderá ser um mês em que muitos regressarão em força. Depois do verão de 2020 ter afastado muitos das ansiadas férias em terras lusas, pois a maioria ficou por França porque as fronteiras estavam fechadas e a covid-19 ditava regras muito restritivas à circulação, este ano tudo indica que os portugueses residentes no estrangeiro voltarão para passar o tradicional mês nas terras de origem.
"Pode ser um verão de grande confusão. As pessoas estão ansiosas por vir, porque em 2020 não vieram. Já têm mesmo muitas saudades. Os pais e os avós estão cá em Portugal e mais um ano sem os ver seria muito duro e difícil. Julgo que haverá muita gente a preparar-se para vir no fim deste mês. Pelo menos, é o que me têm dito os conhecidos", deu conta o emigrante que está radiante por estar em São Julião de Palácios. Miguel Ferreira acredita que, a menos que haja algum aumento considerável nas infeções por covid, "os emigrantes virão em massa".
Ainda que em nove concelhos do distrito de Bragança estejam proibidas as festas e romarias, que eram dos maiores pontos de reencontro dos emigrantes, e muitos marcavam as férias em função dessas festividades, Miguel Ferreira acredita que há outras alternativas para passar o tempo. "Convívios com amigos e familiares, os rios e as praias fluviais. Agora aproveita-se mais a família do que antes da covid", reconhece.
O casal Ferreira costuma fazer a viagem de carro e este ano não foi exceção. "Não me pediram nada na fronteira. Se fosse preciso não havia problema, porque já temos os certificados digitais da vacinação. Sei que no regresso, ao chegar à fronteira francesa, precisamos desse certificado ou de um teste covid negativo", referiu Miguel.
A mulher, Goreti Ferreira, está ansiosa por voltar a ter uma vida sem as restrições da pandemia e de andar sem medo pela aldeia. "Fazemos as férias aqui. Evitamos ir a Bragança. Convivemos menos com familiares e amigos. Estamos mais por casa, que é fora da aldeia. Não damos beijos, nem abraços e a máscara está sempre à mão. Há menos liberdade", conta Goreti temendo que, provavelmente, a vida não voltará à normalidade tão cedo. "Mesmo vacinados, temos medo de contagiar a família", explica.