Cerca de 70 autarcas ibéricos, da região Centro e de Castilha e León, exigem que os governos de Portugal e Espanha concretizem os estudos e a obra de implementação de comboios de alta velocidade no Corredor Atlântico, no troço ente Aveiro e Salamanca, passando por Viseu e por Guarda, garantindo a ligação a Madrid.
Corpo do artigo
Os políticos assinaram, esta quarta-feira, uma declaração regional conjunta, para que a ferrovia se converta numa alavanca de desenvolvimento nas regiões. Este grupo de autarcas já entregou, aos governos de Portugal e Espanha, as declarações que resultaram dos encontros de Salamanca e de Viseu, tal como será esta. A última declaração, que sairá do encontro a realizar em Aveiro, será entregue ao próximo governo, após as legislativas de 18 de maio.
É importante juntar esforços para valorizar este euroterritório", reconhecido pela União Europeia como "um dos nove eixos cooperantes da rede de transportes", sublinhou Sérgio Costa, presidente da Câmara da Guarda e anfitrião da conferência Transporte Ferroviário no Corredor Atlântico, que se realizou esta quarta-feira.
Governo olha para sul, adverte Coimbra
Com uma plataforma logística que não pode atingir o seu auge por falta da modernização da ferrovia, a Guarda "dá centralidade a esta região, que liga o Litoral português a região de Castilla e León espanhola", defendeu Sérgio Costa.
Na declaração regional conjunta, os autarcas exigem, aos dois governos, "o reforço da conexão ferroviária do Corredor Atlântico, no troço ibérico Pampilhosa - Mortágua - Mangualde - Guarda - Vilar Formoso - Ciudad Rodrigo - Salamanca a Madrid, por forma a garantir mais e melhor mobilidade de passageiros e mercadorias", na certeza de que trará novos investimentos para as regiões. Apelam, também, "à criação de mecanismos facilitadores e instrumentos de financiamento para a construção ou requalificação de terminais de mercadorias e plataformas logísticas junto de vias ferroviárias ou rodoviárias, assegurando um papel crucial de promoção da intermodalidade, da melhoria da eficiência logística e do aumento da competitividade". Por fim, reclamam "acessos rodoviários a terminais de mercadorias, áreas empresariais, industriais e logísticas”.
Ana Bastos, vereadora da Mobilidade e Transportes da Câmara de Coimbra, alertou que o Governo parece tender para o corredor mais a sul, mas este, "apesar de necessitar um menor investimento, só serve Lisboa, Évora e pouco mais", ao contrário deste corredor mais a norte, que "serve Lisboa, a região Centro e a do Norte, pelo que o Governo deve fazer contas ao custo/benefício e optar pelo que serve o país". Por parte da Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra, a vice-presidente Helena Teodósio sublinha que esta "não é só uma ligação ferroviária, mas uma infraestrutura que conecta empresas, mercados e pessoas".
Já Carlos Garcia Carbyo, da Província de Salamanca, assume que as duas regiões ibéricas "foram esquecidas” pelos respetivos governos. “Também em Espanha, o Governo está mais focado no Corredor Mediterrânico, em vez do Atlântico". Ideia corroborada pelo presidente da CIM Beiras e Serra da Estrela, Luís Tadeu, que reitera que "Lisboa também se esquece destes territórios". Daí a importância da união entre todos para concretizar esta ligação, porque, quanto mais tempo demorar, maior é o prejuízo para estes territórios e suas populações ".
Fernando Ruas, presidente da CIM de Viseu e Dão Lafões, sugere que este grupo de autarcas solicite uma reunião com os ministros das Obras Públicas de Espanha e de Portugal para “exigir um traçado e uma definição sobre a concretização deste corredor".
Falta concluir eletrificação entre Pampilhosa e Mangualde
Miguel Cruz, presidente da Infraestruturas de Portugal, não esquece a importância da ligação, também, ao porto de Sines, mas está consciente que "é pelo Corredor Atlântico” que Portugal se conectará “aos mercados espanhol, francês e alemão. Este é o eixo preferencial para a mobilidade militar, para o impulso da economia regional e atração de novos investimentos". Para a concretização do Corredor Atlântico, é fundamental que se termine a modernização da Linha da Beira Alta. Neste momento, dos 193 quilómetros de eletrificação entre Pampilhosa da Serra e Vilar Formoso, falta terminar a obra no troço de Pampilhosa a Mangualde. O investimento total é de 600 milhões de euros.
A secretária de Estado dos Transportes e Mobilidade, Cristina Pinto Dias, procurou tranquilizar os autarcas quanto às ambições do Governo. Um dos objetivos, assegurou, é triplicar o tráfego ferroviário nos próximos anos finda a valorização do Corredor Atlântico, não só na sua vertente ferroviária, mas também na sua ligação aos portos interiores e na rede rodoviária para completar estas ligações. A ainda governante reconheceu a necessidade de investimento e de trabalho conjunto para criar estratégias como a união que se viu no encontro da Guarda.