Campanhas autárquicas têm mais autonomia. Porém, seguem orientações dos partidos e despesa com cartazes vai até 25% da subvenção. PSD controla despesa e propaganda e PS adianta verba sob critérios claros.
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Candidatos de pernas para o ar, isolados ou todos ao monte no mesmo outdoor, mensagens fora da caixa, ao estilo de James Bond, com humor ou mesmo de repúdio pelo cartaz vandalizado. Há de tudo nestas autárquicas, com as candidaturas a dar largas à criatividade, mas sem se esticarem nos limites legais ou nas orientações dos partidos e movimentos, uns mais intervenientes do que outros, como o PSD. Tanto nos outdoors, cujo aluguer custa cerca de 52 euros por mês para um 8x3, como nos cartazes e múpis, puxam a brasa à sua sardinha ou, neste caso, ao produto e à vivência do concelho. Até há pipetas e canivetes entre os brindes.
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Para as eleições do dia 26, com pandemia e sem a tradicional proximidade, há autonomia na estratégia visual, mas há que respeitar os 25% da subvenção pública na despesa com cartazes e telas. A esmagadora maioria dos cabeças de lista dispensam a imagem do líder, mas junta-se nos outdoors aos candidatos a assembleias e juntas. Mas há cartazes sem rosto ou com o programa e um palco para facilitar a leitura, como fez a Iniciativa Liberal em Lisboa. Os símbolos partidários costumam estar presentes, acompanhados ou não de um slogan transversal. Em alianças, cada força tem a sua marca.
PSD
Da supervisão aos brindes incomuns
No PSD, tudo passa pela sede nacional. "Desenvolveu um sistema informático inédito para acompanhar toda a execução da despesa e propaganda", disse ao JN Hugo Carneiro, secretário-geral adjunto e mandatário financeiro. O objetivo "é pagar a todos os fornecedores até dezembro deste ano e antecipar a apresentação de contas". Na propaganda, recorda o limite de 25% de despesa com outdoors e telas para efeitos de cálculo da subvenção. O "excedente" teria de ser pago com "contribuições do partido ou angariação de fundos". É possível alugar um 8x3 até três meses por 42,5 euros mais IVA mensais, exemplificou, com base nos valores da Entidade das Contas. Mas o habitual é optar-se por gastar 100 euros por mês mais IVA.
No desenho há autonomia e, quando há coligação, surge o logótipo dos vários partidos e os cartazes são mais neutros. "Transversal" é o recurso ao "flyer" e brindes, que pode ser apenas uma caneta ou t-shirt. No domínio da criatividade, deu o exemplo de Alexandre Poço, em Oeiras, que saltou de um avião para promover o programa. No Porto, Vladimiro Feliz lançou outdoors para daltónicos. E chegam pedidos para meios específicos, como pipetas para animais em Santo Tirso, canivetes no Alentejo e flores na Mealhada. Em Oeiras, o PSD ofereceu meias cor de laranja.
CDS-PP
Mais visíveis e modernos
A estratégia assenta na uniformização da comunicação do CDS-PP, mesmo a nível local, referiu ao JN o grupo GCI, que está com a campanha. "O objetivo base é passar as mensagens distintas de cada localidade, mas garantir que os códigos visuais são comuns, assegurando que as pessoas percebem logo quando se trata de uma comunicação do CDS, independentemente de onde estiverem", explicou.
A agência aponta "uma linguagem gráfica diferenciadora do que fora feito até ao momento, com códigos gráficos e cromáticos mais vibrantes e modernos". "Resulta da identidade gráfica do partido e do mote de comunicação para as autárquicas - "Vamos virar Portugal à Direita!" - que é representado" com "os grafismos de fundo". Os candidatos surgem sempre isolados ou com a equipa imediata, mas "definimos que não é necessário o "gancho" da presença de líderes nacionais", acrescentou ao JN.
Os principais formatos utilizados são os outdoor (desde os 8x3 e 3x2, até cartazes e múpis, folhetos e flyers, onde surgem de forma mais concreta as ideias de cada candidato. Paralelamente, "foram criadas bases para cada concelhia comunicar em social media, reforçando as mensagens".
PS
Adiantamentos feitos pela sede
O PS lembra que, nos termos da legislação, cabe a "cada campanha concelhia" definir a estratégia e os meios, "além de apresentar as respetivas contas". E o partido "respeita essa autonomia". Mas foram "definidas regras bastante claras e precisas sobre recursos financeiros e a utilização de meios" porque "o partido faz adiantamentos financeiros às campanhas locais".
O gabinete de imprensa diz que o recurso a outdoor tem como limite 25% do orçamento de campanha para "introduzir um critério limite de razoabilidade e eficiência de meios". De resto, destaca as redes sociais e "suportes de propaganda de menor dimensão, custo inferior, recicláveis, fáceis de colocar e retirar e que não obrigam a intervenções fixas no espaço público".
Com os contactos pessoais mais difíceis em pandemia, é menor o recurso a brindes. É mais frequente a propaganda por correio e divulgada em sites e redes sociais.
Na generalidade dos casos, o símbolo do PS está em destaque porque "representa um importante elemento de propaganda". Mas os dirigentes nacionais só são associados à campanha em eventos coletivos (comícios, festas, apresentações) em que são convidados. Nos outdoors, o candidato à Câmara surge isolado ou com o candidato à Assembleia. Em cada freguesia, surge ao lado do respetivo candidato.
"Em muitos casos, senão mesmo em quase todos, são criativos locais e agências de comunicação de âmbito local/regional que fazem a conceção das campanhas e dos materiais, e a imagem gráfica", destaca ainda.
Bloco de Esquerda
Associa propostas nos cartazes
O BE aposta em iniciativas com temas fortes como direito à habitação, transportes públicos de qualidade, participação democrática e transparência. "Queremos deixar claro que a eleição de vereadores do Bloco fará a diferença nos municípios, contribuindo para maiorias na defesa de uma transição climática justa, no combate à precariedade laboral e no enfrentamento dos fenómenos de discriminação e desigualdade", explica Adriano Campos, do Secretariado Nacional.
O BE privilegia "uma campanha de proximidade, respeitando as regras de segurança sanitária, ancorada em exemplos de lutas concretas". E "há uma aposta forte em redes sociais e meios virtuais, à qual se soma uma rede de cartazes onde os candidatos surgem associados a propostas".
"Todos os materiais, incluindo jornais e panfletos para distribuição, são elaborados pelas próprias campanhas com o auxílio de uma equipa central, não havendo recurso a agências de propaganda". E o BE "privilegia materiais recicláveis e a redução do desperdício, prevendo reduzir 20% os custos de propaganda" face à campanha de 2017.
CDU (PCP e PEV)
Mensagem nacional
Por sua vez, a CDU tem no terreno uma linha de cartazes, em formato outdoor e múpi, com uma mensagem nacional, conjugando as palavras de ordem "Futuro de confiança" com os elementos que caracterizam a coligação, os seus candidatos e eleitos: trabalho, honestidade e competência, concretiza o gabinete de imprensa do PCP.
"As soluções de cartazes são múltiplas e diversas, sejam a partir da figura dos candidatos ou das propostas das candidaturas da CDU no plano local, assim como dos símbolos do PCP e do PEV, partidos que constituem a coligação", explica ainda ao JN. Quanto à conceção dos materiais de propaganda, esta "é assegurada através dos contributos dos candidatos, dos ativistas e dos apoiantes da CDU".
PAN
Enquadrados por ilustrações
A estratégia é unir a figura dos candidatos a "imagens identitárias das causas do PAN e do património natural local, seja através da inclusão de espécies de flora autóctone, de elementos que convoquem para a mobilidade suave ou para o património característico de cada cidade", referiu o partido ao JN. Tanto nos materiais impressos como nos digitais, surgem sempre enquadrados por ilustrações que evocam as causas a defender a nível local.
O PAN aposta em outdoors, múpis e cartazes. Os outdoors com candidatos às câmaras e assembleias têm 8x3 e ficam em Lisboa, Odivelas, Oeiras, Maia, Porto, Almada, Seixal, Faro, Braga e Viseu. A porta-voz, Inês de Sousa Real, não constará dos outdoors ou múpis. De resto, por defender "a minimização" dos materiais de campanha, só terá, para além dos "flyers", máscaras e sacos de pano. A parte criativa foi concebida pelos recursos próprios.