Rui Moreira foi alvo comum dos adversários, mas Oposição disputa entre si lugares na vereação. Candidato independente virou-se sobretudo contra António Costa e ministros pelo "ar salazarento de chapelada".
Corpo do artigo
Foi uma campanha recheada de polémicas. O caso Selminho, que envolve Rui Moreira, acabou por ser pouco explorado, mas outras controvérsias marcaram especialmente a batalha autárquica no Porto, com o independente a apostar no ataque a António Costa e aos ministros que se multiplicaram em ações ao lado de Tiago Barbosa Ribeiro.
Moreira criticou "o ar salazarento de chapelada" e, por sua vez, foi alvo de denúncias por propaganda indevida, com o PSD a recorrer à Comissão Nacional de Eleições (CNE). E o Porto também foi palco para Rui Rio criticar "as rajadas de metralhadora" de Costa por usar a bazuca.
Nesta campanha, o presidente da Câmara, que já tinha sido atacado aquando do fecho do centro de vacinação do Queimódromo, foi o alvo preferencial de toda a Oposição, da Esquerda à Direita, que procuram, pelo menos, impedir uma maioria absoluta, quando o autarca já pediu "maioria reforçada". Mas a disputa de lugares na vereação faz-se sobretudo entre os seus adversários, com PSD a tentar passar à frente do PS, Ilda Figueiredo a procurar garantir o último mandato pela CDU; BE e PAN a pedirem a eleição de um vereador e o reforço na Assembleia Municipal.
As esquerdas vão medir forças e o PSD vai procurar tirar votos a Moreira, apesar de admitir a dificuldade por o autarca independente ser da mesma área política. A presença de Rio na campanha também visou separar as águas e chamar para Vladimiro os votos do eleitorado "laranja".
Há ainda que pesar as candidaturas de outros cinco candidatos, entre os quais o Chega, que quer ser a terceira força no país.
Moreira fez pontaria a Costa e deu música nas redes
Autarca apostou em arruadas, contactos institucionais e junto dos seguidores, com vários cantores ligados à cidade a contribuir para os vídeos na Internet.
"Tudo o que eu te dou", de Pedro Abrunhosa, "Efetivamente", dos GNR, e "Anda comigo ver os aviões", dos Azeitonas, cedido pelo amigo Miguel Araújo, são alguns temas usados nos vídeos de Rui Moreira para captar os seguidores nas redes sociais. Mas, no terreno, a música foi outra. Irritado com as alusões à bazuca e denunciando o uso de meios do Governo, atacou António Costa e ministros. E sobretudo Marta Temido pela sua participação na campanha de Tiago Barbosa Ribeiro.
Moreira pediu "maioria reforçada", não só na Câmara mas "também na Assembleia", prometendo acolher propostas apenas se corresponderem "à realidade" do Porto. Acusado de não dialogar dentro e fora da Câmara, com Ilda Figueiredo a atribuir-lhe "tiques absolutistas", vai a votos apoiado por CDS e Iniciativa Liberal, entre outros. Mas sem perspetiva de acordos com os adversários. Recusam entendimentos, menos Bebiana Cunha, mas "sem abdicar dos princípios do PAN" e prometendo oposição sempre que for preciso.
Apesar das notícias de pré-campanha sobre os contactos com Moreira por parte de sociais-democratas e socialistas, quer Vladimiro Feliz, que apresentou queixas à CNE contra Rui Moreira, quer Tiago Barbosa Ribeiro garantiram não estar na corrida para alianças pós-eleitorais, mas "para ganhar".
Quando todos o acusam de falhar prioridades como a construção de casas, o autarca insiste não ser possível resolver o problema da habitação sem o Estado central. Neste ponto, a CDU concorda ser preciso exigir investimento do Governo.
Confiante de que o processo Selminho não o impedirá de ganhar um terceiro mandato, foi dizendo que o seu número dois, Filipe Araújo, é tão capaz de gerir a Câmara como Fernando Medina após Costa, em Lisboa. De sua parte, Moreira promete não sair da Câmara.
O candidato independente também falou de pandemia, alertando para o regresso do "botellón" e pedindo mais policiamento.
Governantes e dirigentes deram mão a socialista
Construção de habitação acessível é uma das principais prioridades de Tiago Barbosa Ribeiro.
Após um arranque difícil, com avanços e recuos na indicação do candidato socialista ao Porto, Tiago Barbosa Ribeiro apresentou-se como adversário de Rui Moreira, sucedendo nesta batalha a Manuel Pizarro.
A candidatura contou com presença de vários governantes, o que motivou fortes críticas, sobretudo de Rui Moreira. Mas houve também quem apontasse com ironia a falta de comparência de António Costa, como fez Vladimiro Feliz, do PSD. Porém, o secretário-geral do PS termina hoje a campanha ao lado do candidato ao Porto numa arruada e num comício.
Duas décadas após ter perdido a Câmara para Rui Rio, também Fernando Gomes apareceu a apoiar Barbosa Ribeiro, numa "cidade demasiado tranquila".
A habitação é uma das principais bandeiras da candidatura socialista, à semelhança de outros candidatos, tendo o tema dominado a campanha. O deputado, que promete ficar quatro anos seja qual for o lugar que os eleitores lhe derem, propõe definir o Centro Histórico como "zona de contenção" no alojamento local e quotas no resto da cidade. E quer um programa de arrendamento acessível. Recusa "um turismo massificado" e diz haver terrenos municipais disponíveis para casas destinadas à classe média, acusando Moreira de inação.
Vladimiro viajou na "Marlene" e teve ajuda de Rio
PSD recusa acordos pós-eleitorais, promete menos carga fiscal e distribuir pegada turística.
A bordo do autocarro "Marlene", numa versão melhorada para esta campanha autárquica, o social-democrata Vladimiro Feliz percorreu a cidade, entre paragens para visitar bairros e dar-se a conhecer, após ter deixado a Câmara do Porto já em 2013, onde foi número dois de Rui Rio, atual líder do PSD, que também participou nessas viagens.
O presidente social-democrata tem dito que a sua continuidade não depende dos resultados do Porto e de Lisboa, e no partido admite-se a dificuldade em ter um bom resultado sobretudo contra Rui Moreira, apoiado por uma ala do PSD que integra a sua equipa.
Vladimiro Feliz, que já foi apoiante de Rui Moreira, ataca hoje a estratégia do presidente para a cidade. Desde logo, considerou que o autarca não tinha condições para se recandidatar devido ao caso Selminho, pelo qual vai ser julgado.
O candidato do PSD diz que concorre para vencer e, se fosse para acordos pós-eleitorais, "tinha seguido outro caminho mais fácil".
Concorda com Moreira que não se pode "matar a galinha dos ovos de ouro", mas exige a distribuição do turismo concentrado no centro. Outras bandeiras são reduzir a retenção do IRS para apoiar as famílias e criar habitação a custos controlados, quer para aquisição, quer para o arrendamento.
Pode haver estreias num medir de forças
Candidatos tentam manter-se ou entrar na vereação. Em vésperas de Orçamento, procuram reforçar partidos.
Ilda Figueiredo candidata-se pela última vez à Câmara do Porto para repetir o mandato de vereadora, durante quatro anos. Disputa votos dentro da Esquerda com socialistas e Bloco, mas também com o PAN. Estes dois últimos apontam os objetivos de conseguir a estreia de um vereador e reforçar o peso na Assembleia. Além disso, há mais cinco candidaturas ao Porto que tentam lugar como deputados municipais: Chega; PPM; Volt Portugal; Ergue-te; e Livre.
Ilda Figueiredo percorreu as freguesias para denunciar os pontos negros e pedir aos eleitores que renovem a confiança no seu mandato, com despedida marcada para daqui a quatro anos.
De mala vermelha, a cor do partido, espalhou folhetos e apelos por ruas, bairros e ilhas a necessitar de reabilitação. Defende três mil habitações públicas com urgência, para quem vive sem condições ou não tem casa, e soma a estas mais três mil fogos com rendas apoiadas. Do mesmo modo, a candidata condena uma cidade entregue a projetos de luxo.
Com ajuda do secretário-geral, Jerónimo de Sousa, que fez vários comícios no distrito, a candidata quer impedir a maioria desejada por Moreira, a quem acusa de ser "absolutista" e de não ouvir a população.
Pelo Bloco de Esquerda, o independente Sérgio Aires procura a estreia na vereação, sendo esta uma das grandes prioridades da coordenadora Catarina Martins.
Também para Sérgio Aires, a habitação é uma bandeira. E só com alojamento público se consegue travar a especulação imobiliária. Defende "cinco mil fogos" neste mandato. E promete "combater a cidade-negócio" que "reproduz pobreza".
Bebiana Cunha, líder parlamentar do PAN, gostaria que o Porto elegesse uma mulher presidente, mas faz mira ao lugar de vereadora. E o partido quer mais força na bancada municipal.
Defende a criação de um conselho municipal de habitação, espaços verdes e parques caninos de proximidade, e que haja um pelouro específico para um "turismo de qualidade".