Todos os dias, o secretário de Estado do Planeamento, José Mendes, escreve sobre a viagem de Bragança a Sagres de bicicleta.
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Etapa: Armação de Pêra - Sagres (70 km)
Sagres. O fim do país e o fim do continente europeu. E o fim do meu Portugal Diagonal. Desde o dia em que imaginei esta experiência, a meta ficou definida. Seria o local do melhor pôr do sol do mundo, que é aplaudido por uma pequena multidão que se arregimenta diariamente no Cabo de São Vicente, quando o dia se faz noite.
Quando saí de Armação de Pera para o último desafio, optei pela N125. Porquê? Bom, primeiro porque não me senti a trair a N2. Na etapa entre Faro e Armação, só circulei por estradas secundárias, pelo que cumpri o período de nojo. Depois, porque a 125 tem fama de ser bonita e perigosa. Quem resiste a isso?
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Usei o meu tempo para fazer o balanço da travessia. Colou-se a mim a ideia de que Portugal é belo. Uma beleza singular, única e irrepetível. Uma sequência de presépios formados por rios, serras, personagens e animais verdadeiros. Sobre este cenário, as pessoas. Autênticas, genuínas, que sabem e querem receber bem. Se se pede água para o cantil e está calor, logo perguntam se queremos também um "gelinho". Se solicitamos uma informação, logo se oferecem para nos escoltar até encontrarmos o caminho. Se temos dúvidas sobre um prato, logo explicam como se confeciona e quais os ingredientes. Estão lá para nós, parece que sempre estiveram.
A segurança é a melhor das surpresas. Tudo parece funcionar neste nosso Portugal interior. Andamos descontraídos na rua, a qualquer hora. Há sempre um sorriso de confiança por perto. A bicicleta está sempre segura. "Deixe ficar, que aqui não há problemas." A estrada tem bom piso. Como não me perdi muito, deve estar bem sinalizada. E desfiz um dos mitos nacionais. Não encontrei verdade na convicção de que os automobilistas e os camionistas fazem a vida negra aos ciclistas. Para ser rigoroso, não tive um único problema de disputa de espaço. Fui um ciclista feliz numa viagem de mil quilómetros.
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E a água? O bom sabor de não ter sabor. Que bom pedalar de Bragança a Sagres, mantido a água da torneira. Isto é segurança. Isto é Portugal.