Instituição sediada no Porto está "no limite da capacidade". Tem 87 órgãos à sua guarda e pode receber até 15 por ano, mas precisa de reforçar pessoal.
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O Banco Português de Cérebros, o único do país, tem 87 cérebros humanos à sua guarda mas já se encontra no limite da capacidade. A escassez de recursos humanos impede a instituição, com sede no Porto, de se expandir e poder dar o próximo passo: começar a receber também cérebros sãos, de modo a compará-los com os que possui - e que pertenceram todos a doentes neurológicos. Ainda assim, o Banco de Cérebros tem tido um papel importante na investigação científica nacional e internacional.
A instituição, fundada em 2014, recebe cerca de 12 cérebros por ano e pretende subir essa média para 15, revela ao JN Ricardo Taipa, neurologista e neuropatologista do Centro Hospitalar Universitário do Porto e responsável pelo Banco de Cérebros. Mas esse número não poderá ser ultrapassado a menos que haja um reforço de pessoal.
"Estamos no limite da nossa capacidade", afirma Ricardo Taipa. O Banco de Cérebros tem cinco trabalhadores, todos a tempo parcial: dois médicos, dois técnicos de anatomia patológica e uma assistente técnica. Todos eles partilham essas funções com o trabalho assistencial hospitalar.
Além do reforço da equipa, o outro objetivo do Banco é passar a receber cérebros saudáveis "num horizonte próximo", revela o responsável. "Esse é o grande desafio", acrescenta, explicando que o cérebro de uma pessoa sã coloca maiores exigências aos profissionais.
Nos cérebros doentes é mais fácil rastrear o historial clínico, já que os seus donos eram acompanhados por neurologistas; no caso dos cérebros saudáveis "é necessário colaborar com os colegas da Medicina Geral e Familiar", realça Ricardo Taipa. Desde logo para confirmar se essas pessoas eram, de facto, saudáveis.
Quem doa são as famílias
A grande maioria dos 87 cérebros guardados pelo Banco foi doada por decisão das famílias dos pacientes. Isto porque, padecendo estes últimos de doenças degenerativas, por norma "já não estão em condições de tomar essa decisão quando a questão é colocada". No entanto, há "pelo menos cinco casos" em que foi o próprio a inscrever-se para doar.
A colheita é feita ainda antes das cerimónias fúnebres, num processo isento de custos para a famílias. No Banco, "parte do cérebro é armazenada em formol e parte congelada a -80 graus", relata Ricardo Taipa. "Estes diferentes acondicionamentos servem para tipos de estudos de investigação diferentes", completa.
Por questões de "logística de transporte", o Banco apenas recebe órgãos de pacientes do norte e do centro do país. Trazer órgãos de outros locais seria "difícil e dispendioso", afirma o responsável pela instituição, até devido à "limitação de recursos humanos".
Os cérebros doados pertenciam a doentes com patologias como Alzheimer, Parkinson ou esclerose lateral amiotrófica. A finalidade do Banco é receber tecidos para os ceder à comunidade neurocientífica nacional e internacional. Esta estuda-os para aprofundar conhecimentos e desenvolver tratamentos para doenças.
Outros dados
Doar é "simples"
O processo de doação é "muito simples", diz Ricardo Taipa: quem quiser fazê-lo deve contactar o seu médico de família que, por sua vez, fala com o Banco de Cérebros. De seguida, basta preencher um formulário. A instituição não divulga a identidade dos dadores.
Saúde do cérebro
Ricardo Taipa refere que há cérebros de pessoas idosas com uma "longevidade enorme", ao passo que algumas pessoas mais novas já têm marcas de doenças degenerativas. Um dos objetivos é perceber por que motivos estas diferenças ocorrem.
Fatores de risco
Há alguns fatores de risco bem conhecidos e que podem prejudicar a saúde do cérebro. Entre eles contam-se o álcool, o tabaco, a diabetes e a hipertensão.
Rede europeia
O Banco Português de Cérebros pertence a uma rede científica europeia que facilita a partilha de tecidos cerebrais com profissionais estrangeiros.