
Casino de Espinho tem várias medidas de prevenção implementadas
André Gouveia/Global Imagens
Criados lugares sentados para quem vai só beber um copo. Baixo preço da comida também é um atrativo.
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Os casinos reabriram no início de junho e ainda são os únicos estabelecimentos onde se pode entrar de madrugada. As portas só fecham às 3 horas, ou às 4 como na Póvoa de Varzim. Sem alternativas, com os bares obrigados a fechar mais cedo, as casas de jogo passaram a ser ponto de encontro de jovens nas noites de verão. Os casinos apontam que a maior afluência de jovens é normal nesta época. Os especialistas alertam para o perigo, os donos dos bares falam em injustiça.
Meia-noite. Casino da Póvoa de Varzim. A casa está "composta". Há jovens, muitos jovens. A pandemia mudou a face da casa de jogo. O ambiente é "menos pesado", há "menos jogadores, menos chineses - em tempos, os principais clientes - e mais miudagem", atira uma cliente, sob anonimato, sentada nas mesas que, agora, ocupam uma das salas da entrada.
Também elas são "sinais dos novos tempos": já não é só slot machines em todo o lado; há mais lugares sentados para quem vem "só beber um copo à noite". Ao balcão, três jovens de cerveja na mão, esperam. Hambúrguer e fino a 3,20 euros. "É barato e, nesta altura, não há mais nada aberto à noite", justifica um deles.
Das cerca de duas centenas de clientes, metade terá entre os 18 e os 25 anos. Muitos nunca tinham entrado no Casino. Até chegar a covid. Sem os bares, é ali que passam, agora, as noites: há música, bebidas e gente. Na sala das slot machines, há também mais jovens a jogar. "Nunca tinha experimentado, mas já que vim......", diz uma rapariga.
"tenho vindo mais vezes"
O cenário é idêntico no Casino de Espinho. É dia da semana, uma hora da madrugada e, lá dentro, multiplicam-se os jovens, principalmente rapazes, a jogar em grupo. As bebidas já não são servidas ao balcão, há funcionários a percorrer a sala de bandeja. E fumar só numa zona exterior.
Rui Rodrigues, 26 anos, é emigrante na Suíça e está de férias. Bebe uma cerveja enquanto vê os amigos jogarem. "Não viria ao casino numa noite normal. Vim por não haver nada aberto. Senão ia para outro lado", assume. Enquanto decide onde apostar, Francisco Gil, 21 anos, do Porto, diz que é a segunda vez no casino desde que reabriram. "Costumava vir de vez em quando, mas tenho vindo mais vezes que o habitual. E sinto que está cheio".
Lotação reduzida, separadores em acrílico entre máquinas, uso de máscara obrigatória: as regras nos casinos são agora apertadas.
Regras que Hugo Cardoso, da Associação Portuguesa de Bares, Discotecas e Animadores, diz que os bares também garantem. Critica o horário mais curto para estes estabelecimentos e alerta para o risco de os mais novos se "enfiarem nos casinos" num "incentivo ao jogo". "Recentemente, fui à Figueira da Foz jantar e apetecia-me beber um copo. Fui ao casino, cheguei à porta e estava uma fila de miúdos, parecia uma discoteca", conta ao JN.
Para Manuel Cardoso, vice-presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), trata-se de "uma exposição ao risco". "O acesso é sempre um risco, mesmo estando a falar de maiores de 18 anos". Mas os casinos não subscrevem o fenómeno. Susana Saraiva, diretora de Marketing do Casino da Póvoa, diz que a procura não é diferente da de outros anos. "Há sempre muitos veraneantes nesta altura. Admito que para algumas pessoas, até poderemos ser uma alternativa, mas não é algo massivo".
Espaços com quebras de afluência de 50%
Os casinos dizem não sentir uma maior afluência de público jovem e são unânimes em relatar quebras na procura. No Casino da Póvoa, Susana Saraiva, diretora de Marketing, descreve não só menos público em geral, como "uma menor permanência das pessoas à medida que as horas vão passando, devido ao uso da máscara". No grupo Estoril Sol, os casinos do Estoril e de Lisboa, que estão a fechar à 1 hora, negam o "acréscimo de jovens" e sublinham uma queda de 60% nas receitas e o aumento significativo do imposto de jogo. No Grupo Solverde - casinos do Algarve, Espinho e Chaves - a experiência é semelhante, com uma procura "abaixo dos 50% relativamente ao período anterior à pandemia" e menor afluência de jogadores.
Regras rigorosas
Além da lotação limitada, há medição de temperatura à entrada, disponibilização de máscaras e desinfeção das zonas de jogo. Para garantir o distanciamento social, as salas de jogo foram reorganizadas e há acrílicos a separar máquinas.
Clean & Safe
Os casinos do Grupo Solverde e os do Grupo Estoril Sol foram distinguidos com o certificado Clean & Safe do Turismo de Portugal, o que significa que cumprem todas as medidas e orientações da DGS.
Casinos Lisboa
A 1 de julho os casinos de Lisboa e Estoril passaram a funcionar apenas até às 20 horas na sequência das medidas de exceção na Área Metropolitana de Lisboa. Agora, as autarquias de Lisboa e Cascais consideraram haver condições para estender o horário até à 1 hora. Mas a partir das 20 horas é proibida a venda de álcool, exceto no serviço de refeições.
Pedro Hupert, psicólogo e coordenador do Instituto de Apoio ao Jogador
Pode ir só beber um café mas há risco
O aumento dos jovens nos casinos pode ser perigoso?
O fenómeno do jogo é sempre um risco para aqueles que já têm alguma predisposição para a dependência. Para criar o vício basta reunir três condições: traços de personalidade, o acesso e um jogo potencialmente aditivo, ou seja, que permita apostar muitas vezes num curto espaço de tempo. A pessoa até pode ir só beber um café ou uma cerveja, mas dada a situação conjuntural, há risco.
O facto de serem jovens acarreta mais riscos?
Não podemos dizer de forma científica que a exposição vai potenciar o risco de dependência para todos, mas sendo jovens ele é ainda maior. Porque há um menor controlo dos impulsos, menos maturidade, a população até aos 25 anos é sempre de risco. Há aqueles que vão, experimentam e, por já terem tendência para uma outra adição, ou porque têm problemas de ansiedade, depressão, podem ficar dependentes.
Definir um valor-limite das apostas pode ajudar?
Os jovens não têm muito dinheiro. Mas se apanham o hábito de jogar em novos, é mais provável que o continuem a fazer.
Como se pode evitar?
Sou contra proibições. Não podemos proibir tudo. Falta é uma maior aposta na prevenção nos locais físicos de jogo. No jogo online, já começa a haver.
