Barómetro: Há uma ministra para despedir. E um ministro melhor do que Luís Montenegro
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Se os portugueses tivessem o poder de demitir ministros, Luís Montenegro teria de encontrar outra solução para a pasta da Saúde. De acordo com os resultados do barómetro da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN, são mais os que apontam a porta de saída (47%) do que os que defendem a manutenção (40%) de Ana Paula Martins, que se destaca por ser o pior elemento do Executivo. O melhor, na comparação com o passado, é Fernando Alexandre (Educação, Ciência e Inovação). Melhor, até, do que o chefe do Governo.
Nos bastidores da política e nos painéis de comentadores, há um conceito que está na moda: “Remodelação da Primavera”. A altura em que, supostamente, Montenegro aproveitará para afastar ministros desgastados e/ou lançar algum na corrida autárquica marcada para o outono. Um nome recorrente nestas contas é Pedro Duarte, que deixaria o Governo para tentar conquistar a Câmara do Porto. Curiosamente, o ministro dos Assuntos Parlamentares é aquele que os portugueses mais querem manter onde está: 59% mantinha-o, 21% despedia-o, o que lhe garante um saldo positivo de 38 pontos e o lugar mais alto deste ranking.
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Porta aberta a demissão na Saúde
Nos antípodas de Pedro Duarte está Ana Paula Martins. É a única com um saldo negativo (sete pontos), quando está em causa a manutenção no Governo. Ou seja, a única ministra em que são mais os que a querem ver pelas costas (47%) do que os que aceitam que continue à frente da Saúde (40%). Presume-se que os sucessivos problemas nas urgências, a falta de médicos e as demissões polémicas de altos cargos terão dado um forte contributo para o desapego dos portugueses.
Apesar de o despedimento da ministra da Saúde ser um desejo comum a homens e mulheres, há outro tipo de divisões: se dependesse de quem tem 35 a 54 anos, Ana Paula Martins ficaria (saldo positivo de três pontos), mas os mais velhos desequilibram as contas (saldo negativo de 12 pontos), talvez porque sintam mais a falta de um médico de família; quem vive na Região Norte hesita (saldo positivo de um ponto), mas os habitantes de Lisboa dão um rotundo não (saldo negativo de 20 pontos), talvez porque tenham encontrado mais vezes as urgências fechadas; os que têm melhores rendimentos também revelam alguma compreensão (saldo positivo de três pontos), mas a classe média está zangada (saldo negativo de 18 pontos), talvez porque não tenha o suficiente para recorrer aos hospitais privados.
Montenegro no fundo, mas no verde
No penúltimo lugar, mas aparentemente a salvo de um despedimento, está outra governante a quem não têm faltado algumas controvérsias. Margarida Blasco, da Administração Interna, deveria sair, segundo 33% dos inquiridos, mas são muitos mais (48%) os que defendem a sua manutenção na pasta, o que resulta num saldo positivo de 15 pontos. Nuno Melo, o líder do CDS, que acumula com a pasta da Defesa, fica um pouco acima, com um saldo positivo de 19 pontos, para chegar então a vez do primeiro-ministro, que também está no fundo desta tabela, apesar de, noutro tipo de avaliações, ter o estatuto de político mais popular do país.
Há 55% de portugueses que querem que Luís Montenegro se mantenha no cargo, e 34% que não o querem em S. Bento, o que resulta num saldo positivo de 21 pontos. São percentagens muito próximas das que resultaram da avaliação ao seu desempenho no cargo, que divulgamos esta segunda-feira: 54% deram nota positiva, 36% deram nota negativa, o que resulta num saldo positivo de 18 pontos. A convicção sobre a necessidade de manter o primeiro-ministro é maior entre os homens (saldo positivo de 24 pontos), os mais velhos (26 pontos), os que têm melhores rendimentos (29 pontos) e os que vivem a Norte (29 pontos).
Educação segue de vento em popa
Se, no que diz respeito à manutenção no cargo, o primeiro-ministro está quase no fundo da tabela, no que diz respeito à comparação com o seu antecessor em S. Bento, Luís Montenegro salta para o topo. Mas cede o primeiro lugar a Fernando Alexandre: 35% dos inquiridos deste barómetro entendem que o ministro da Educação, Ciência e Inovação (também tutela o Ensino Superior) é melhor do que o antecessor socialista, enquanto 14% afirmam que é pior do que João Costa, o que lhe garante um saldo de 21 pontos.
Fernando Alexandre faz o pleno em todos os segmentos sociodemográficos da amostra (género, idade, classe social e região), com destaque para os que vivem na Região Norte (saldo positivo de 28 pontos) e para os que têm melhores rendimentos (27 pontos), e soma a isso a boa imagem até entre os eleitores socialistas (saldo positivo de três pontos), a única fatia de portugueses que Luís Montenegro não convence na comparação com António Costa (saldo negativo de 32 pontos). O atual primeiro-ministro destaca-se, no entanto, entre os residentes no Norte (saldo positivo de 23 pontos), na faixa etário dos 35/54 anos (25 pontos) e entre os homens, três grupos em que a memória dos tempos de Costa parece ser mais amarga.
Lisboetas descontentes com a Cultura
Nesta comparação entre pastas de governos da AD e do PS, Ana Paula Martins está igualmente nas ruas da amargura. É pior do que Manuel Pizarro, para 34% dos inquiridos, havendo 23% que entendem que é melhor, o que resulta num saldo negativo de 11 pontos. Uma avaliação negativa em que as mulheres assumem um peso preponderante (se dependesse dos homens o saldo seria zero), e, a exemplo da pergunta sobre o “despedimento”, os mais velhos (saldo negativo de 19 pontos) e os que vivem em Lisboa (saldo negativo de 25 pontos).
Mas, neste ângulo de análise, há uma outra ministra no vermelho, mesmo que o saldo negativo seja de apenas um ponto e que apenas uma minoria tenha uma opinião vincada: 16% entendem que a ministra da Cultura é melhor que o antecessor, mas 17% acham que está a fazer pior que Pedro Adão e Silva. Um problema no feminino (saldo negativo de quatro pontos, uma vez que entre os homens o saldo até é positivo (dois pontos), e sobretudo entre os eleitores socialistas e os inquiridos que vivem em Lisboa (saldo negativo de 15 pontos em ambos os segmentos).
Ministros de que não se sabe o nome
Há uma terceira pergunta, neste barómetro em que se avaliam os 18 ministros do XXIV Governo Constitucional, que mostra que, ainda que os portugueses tenham opinião sobre a demissão ou manutenção de um ministro, ou sobre se estão a fazer melhor ou pior que o anterior, na verdade não sabem bem de que personagem estão a falar. Com a exceção de Luís Montenegro, a notoriedade dos governantes anda pelas ruas da amargura.
Quando se pediu aos inquiridos que dissessem o nome do primeiro-ministro, 85% respondeu corretamente. Mas o segundo da lista, o dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, já só foi reconhecido por 28%. Parece pouco mas, comparado com o que se segue, é quase excelente. Até a ministra da Saúde, que neste barómetro aparece como uma espécie de ovelha negra do Governo, tem um problema de notoriedade pessoal: só 14% das pessoas consegue nomear Ana Paula Martins. Nem o ministro das Finanças, que tem presença regular no espaço público e mediático e que protagonizou o primeiro Orçamento do Estado em que não há qualquer aumento de impostos, consegue fazer entrar o seu nome no ouvido dos portugueses: apenas 12% nomearam corretamente Joaquim Miranda Sarmento.
Daí para baixo, e dez meses depois de entrarem em funções, o reconhecimento é inferior a um décimo. Mesmo o ministro da Educação, o “preferido” na comparação com o passado, só é reconhecido pelo nome por 7% dos inquiridos. No fundo da tabela estão a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Ramalho, e o ministro Adjunto e da Coesão, Manuel Castro Almeida, com 2% de notoriedade, apesar deste último ter presença assídua nas televisões.
Ficha técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para a TVI,CNN Portugal, TSF, JN e O Jogo, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade do país. O trabalho de campo decorreu entre os dias 21 e 26 de janeiro de 2025. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores portugueses recenseados e foi devidamente estratificada por género, idade e região. Foram realizadas 612 tentativas de contacto, para alcançarmos 400 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 65,36%. As 400 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/- 5,0% para um nível de confiança de 95,5%. A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC – Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online.