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Luís Montenegro desbaratou, em poucas semanas, a popularidade conquistada durante o seu primeiro ano na chefia do Governo. De acordo com o barómetro da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN, o primeiro-ministro passa de um saldo positivo de 18 pontos no início de fevereiro (diferença entre notas positivas e negativas) para apenas um na primeira semana de março. André Ventura, que já estava num péssimo patamar, fica ainda pior (saldo negativo de 58 pontos). Pedro Nuno Santos continua no vermelho, mas tem a consolação de estar em tendência favorável (passa de um saldo negativo de 35 para 22 pontos).
A degradação da popularidade do primeiro-ministro foi mais rápida que a da intenção de voto na AD, de acordo com os dados das duas sondagens da Pitagórica. Na primeira, recolhida entre 23 e 27 de fevereiro, já depois das primeiras notícias sobre a empresa familiar, mas quando não eram ainda conhecidos, nem os clientes, nem os montantes pagos, Luís Montenegro passou de um saldo positivo de 18 pontos para 15 pontos. No mesmo intervalo de tempo, a AD crescia de 33% para 35,6%.
Mulheres e jovens salvam primeiro-ministro
As piores notícias, no entanto, começaram a desenhar-se no início de março, com uma segunda sondagem, iniciada já depois do Conselho de Ministros extraordinário e da comunicação do primeiro-ministro ao país, do anúncio da moção de censura da CDU, e quando o PS prometia avançar com uma comissão de inquérito: o primeiro-ministro caiu para um saldo positivo de um ponto (47% de notas positivas e 46% de notas negativas) e a coligação que suporta o seu Governo desceu para 33,5%, mas acima do que conseguiu nas legislativas de 2024 (28,8%).
A análise aos vários segmentos da amostra revela que Montenegro já está em terreno negativo entre os homens (são as mulheres que evitam a queda no vermelho, com um saldo positivo de três pontos). O mesmo acontece quando o ângulo incide sobre as faixas etárias: tem saldo negativo nos dois escalões acima dos 35 anos, sendo salvo de uma avaliação geral negativa pelos mais jovens (saldo positivo de 11 pontos). O cenário é idêntico na abordagem às classes sociais: perdeu os favores dos mais pobres e da classe média e só se mantém à tona graças aos que têm melhores rendimentos (saldo positivo de cinco pontos).
Pedro Nuno melhora mas fica no vermelho
O seu principal rival na luta que se adivinha pela chefia do próximo Governo parte de um patamar bastante mais baixo (uma diferença habitual entre quem está no Poder e na Oposição). Pedro Nuno Santos tem um saldo negativo de 22 pontos, mas melhora relativamente ao início de fevereiro, altura em que acusava um saldo negativo de 35 pontos. De então para a última semana de fevereiro teve uma acentuada melhoria, para se manter praticamente no mesmo lugar na sondagem da primeira semana de março.
O líder socialista só está no verde entre os portugueses que têm os rendimentos mais baixos (saldo positivo de nove pontos) e entre os que votam no PS (saldo positivo de 39 pontos). Os piores castigos chegam dos homens (saldo negativo de 30 pontos), dos que têm até 54 anos (saldo negativo de 29 pontos), da classe média (saldo negativo de 32 pontos) e dos que votam no Chega (saldo negativo de 65 pontos).
Líder do Chega acompanha queda do partido
No fundo desta tabela dos três principais líderes partidários continua, como tem sido habitual, André Ventura. O líder do Chega, que no início de fevereiro tinha um saldo negativo de 45 pontos, desceu para os 53 negativos no barómetro do final de fevereiro, e para os 58 negativos na primeira semana de março. Uma queda em sintonia com o que está a acontecer com o Chega, que está agora com 13,5% das intenções de voto, a maior queda entre todos os partidos parlamentares.
Com 77% de avaliações negativas no conjunto da amostra, há segmentos que são mais duros com Ventura, aparentemente na sequência dos escândalos criminais que envolveram alguns dos deputados do seu partido (roubo de malas no aeroporto e suspeitas de crimes sexuais com menores): as mulheres (saldo negativo de 67 pontos), os mais velhos (saldo negativo de 69 pontos), os que têm melhores rendimentos (saldo negativo de 75 pontos), os que vivem em Lisboa (saldo negativo de 65 pontos), e os que votam na AD (saldo negativo de 77 pontos). Saldo positivo, só entre os eleitores do Chega (49 pontos).
Ficha técnica
As sondagens de opinião foram realizadas pela Pitagórica para o JN, CNN, TVI, TSF e O Jogo, sobre temas da atualidade nacional. Universo: eleitores recenseados em Portugal, de ambos os sexos e com 18 ou mais anos: 9 260 214 eleitores. A Pitagórica utilizou neste estudo a recolha dos dados através de entrevista telefónica, suportada por um sistema CATI – Computer Assisted Telephone Interviewing, com validação automática e em sistema Auto Dial. Utilizou-se uma amostragem não probabilística cumprindo-se quotas por sexo, idade e distrito. A seleção dos entrevistados foi realizada através de geração aleatória de números de telemóvel mantendo a proporção dos três principais operadores. A primeira sondagem, realizada entre os dias 23 a 27 de fevereiro, representa uma amostra obtida de 400 indivíduos; este valor traduz um grau de confiança de 95,5%, com uma margem de erro de ± 5,00%. Na segunda sondagem, realizada entre os dias 3 e 6 de março, a amostra obtida foi de 625 indivíduos; este valor traduz para um grau de confiança de 95,5%, com uma margem de erro de ± 4,00%. Responsabilidade do estudo e direção técnica de Rita Marques da Silva.