O líder parlamentar do BE afirmou-se esta segunda-feira "revoltadíssimo" com "as pressões" que considera que o ministro da Administração Interna exerceu sobre o Conselho de Administração da RTP a propósito do cartoon emitido sobre polícia e racismo.
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"Também estou bastante revoltado com o que está a acontecer. Ouvimos o senhor ministro da Administração Interna dizer ao país que, perante algo que foi divulgado pela RTP, pegou no telefone e ligou ao Conselho de Administração da RTP e a pergunta aqui é: quem é o ministro da Administração Interna para andar a fazer pressões sobre jornalistas ou sobre conselho de administração da RTP. Em que democracia é que nós vivemos?", respondeu Pedro Filipe Soares quando questionado pelos jornalistas sobre o 'cartoon' emitido pela RTP sobre polícia e racismo.
Na "democracia que o BE defende", continuou, "a liberdade de expressão é o bem maior", com todas as "responsabilidades que daí advenham", sublinhando que "a censura não tem espaço na democracia, que a RTP tem um espaço de liberdade e tem um espaço de idoneidade que tem de manter e que não está refém do interesse de um qualquer governo".
"E o ministro da Administração Interna que acha que tem o direito de ligar ao Conselho de Administração da RTP a tirar satisfações de qualquer acontecimento na RTP mostra muito de como está a Partido Socialista e do que é este Governo do Partido Socialista", criticou.
Pedro Filipe Soares ressalvou que não está "a discutir se determinado cartoon resulta de bom senso ou de mau senso, se é de bom ou de mau gosto, se é muito afrontoso ou pouco afrontoso".
"E por isso, sim, eu estou revoltadíssimo com estas declarações do senhor ministro da Administração Interna e com a atuação que o Governo teve nesta matéria", condenou.
José Luís Carneiro admitiu hoje ter expressado o seu desconforto com o 'cartoon' emitido pela RTP sobre polícia e racismo e assegurou que as forças de segurança portuguesas garantem o cumprimento do principio da igualdade.
"Na sexta-feira, tive oportunidade de falar com o presidente do Conselho de Administração da RTP para manifestar desagrado com o facto de um 'cartoon' daquela natureza ter sido exibido num festival que tem tantos milhares de jovens", disse o ministro.
O ministro da Administração Interna falava à margem da cerimónia de apresentação do plano de prevenção e segurança da praia de Matosinhos. Questionado pelos jornalistas, lamentou a exibição de um 'cartoon', durante a cobertura do festival de música NOS Alive na RTP, alusivo à polícia e ao racismo.
O 'cartoon', da autoria de Cristina Sampaio, colaboradora do coletivo Spam Cartoon, que tem uma rubrica semanal na RTP, chama-se "Carreira de tiro" e mostra um polícia a atirar ao alvo com cada vez mais intensidade. No final, mostra os alvos, que foram escurecendo à medida da agressividade do polícia, servindo de metáfora ao tema do racismo nas forças de segurança.
Reconhecendo o respeito pela liberdade de expressão, o ministro sublinhou, por outro lado, a necessidade de chamar a atenção da administração da RTP para "o sentido de responsabilidade, para que a liberdade de expressão não coloque em causa a imagem e o prestigio das instituições".
"Comentários insultuosos" de Adão e Silva e tentativa de desviar atenções
Pedro Filipe Soares acusou o ministro da Cultura de ter feito "comentários insultuosos" ao parlamento, considerando que o Governo "tem medo das conclusões" da comissão de inquérito à TAP e por isso "tentou desviar as atenções deste debate".
Na conferência de imprensa para apresentação das propostas de alteração ao relatório preliminar da comissão de inquérito à TAP, no parlamento, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, começou pela polémica em torno das declarações do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, para "retirar o tema de cima da mesa".
"Aquilo que já tínhamos visto com o João Galamba, que o primeiro-ministro não lhe conseguiria ter mão e criou o caos que criou, vemos exatamente o mesmo com o ministro Pedro Adão e Silva. Quando o Governo diz que não fala porque não conhece ainda o relatório final da comissão de inquérito coloca o ministro da Cultura, membro da coordenação política do Governo, a tecer um conjunto de comentários insultuosos à Assembleia da República", criticou.
Para o bloquista, António Costa "não tem mão no Governo" ao "colocar o ministro que pertence à coordenação política do Governo a fazer exatamente o contrário" que o primeiro-ministro dizia que iria fazer.
"Eu creio que isto acontece por um motivo e, daí esta parte introdutória apenas e só para dar corpo à pergunta essencial neste contexto: quem tem medo das conclusões da comissão parlamentar de inquérito", questionou.