Catarina Martins avisa que "sem um programa para o emprego não haverá um orçamento de esquerda", colocando o tema no centro das negociações e remetendo para o Governo a criação de condições para a viabilização do OE2022.
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Em entrevista à agência Lusa na véspera da XII Convenção Nacional do BE, que decorre sábado e domingo em Matosinhos, distrito do Porto, a líder bloquista, Catarina Martins, afirma que ainda não há qualquer negociação ou reunião prevista com o Governo sobre o Orçamento do Estado para 2022 (OE2022), mas considera que ainda há tempo.
"No nosso ponto de vista, a questão de como é que se vai criar emprego, e que emprego, tem de estar no centro de negociações do Orçamento do Estado [OE2022]. Sem um programa para o emprego não haverá um orçamento de esquerda", avisa.
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Depois dos quatro anos da geringonça em que viabilizaram todos os orçamentos do PS e de também se terem abstido, já sem qualquer acordo de legislatura, no OE2020 e no orçamento suplementar devido à pandemia, as negociações para o documento deste ano não chegaram a bom porto e os bloquistas votaram contra.
Para a coordenadora do BE, "não há nenhuma razão para o Orçamento do Estado não ser viabilizado", a menos que o Governo socialista liderado por António Costa "não o queira viabilizar".
Seria uma irresponsabilidade um Governo não encontrar as condições de viabilização do Orçamento
"Seria uma irresponsabilidade um Governo não encontrar as condições de viabilização do Orçamento do Estado num momento em que o país atravessa uma crise tão forte e que há toda a disponibilidade negocial no parlamento para constituir maiorias", considera.
Com toda a crise gerada pela pandemia e consequente desemprego crescente, trabalhadores em lay off e a incerteza em diversos setores de atividade, "não falar do emprego neste momento seria uma absoluta irresponsabilidade" na ótica de Catarina Martins, que considera que o emprego e a sua qualidade "vão determinar a forma" como Portugal sairá deste período.
Tal como o Novo Banco, a saúde será, de novo, outro tema em discussão entre bloquistas e socialistas, defendendo a líder do partido que o "país precisa mesmo do Serviço Nacional de Saúde" e que "não há ninguém em Portugal que negue essa necessidade".
Admitindo que foi "muito frustrante" o "beco sem saída" em que terminaram as negociações do OE2021, Catarina Martins deixa claro que não se lembra de negociações fáceis com o PS ao longo destes anos.
"Diria que a decisão mais complicada foi a decisão de propor ao PS apoiá-lo para poder ser Governo mesmo não tendo ganhado as eleições porque havia uma maioria à esquerda. Porque essa fez uma alteração na forma como normalmente se desenhavam as maiorias no parlamento. Acho que são qualitativamente decisões bastante diferentes", responde quando questionada sobre se o voto contra no último orçamento foi a decisão mais difícil que teve de tomar enquanto líder do partido.
Com o subir de tom nas críticas ao PS nos últimos meses - exemplo disso é o caso das barragens da EDP e o Novo Banco - a coordenadora do BE deixa claro que o partido "nunca se sentiu condicionado e não se sente condicionado neste momento".
"Não é pelo Partido Socialista decidir em determinado momento que é mais ou menos dialogante à esquerda que a posição do Bloco de Esquerda se altera ou que deixamos de ter responsabilidades. A disputa do que vai ser a resposta ao país em matérias fundamentais - emprego, saúde, habitação depende da capacidade do Bloco de fazer essas propostas", aponta.
Para Catarina Martins, não se ganha nada em tornar a política naquilo que não é, ou seja, numa "questão de adeptos de clubes de futebol" ou de "simpatias e antipatias entre dirigentes", admitindo que foi "doloroso" para o partido não ter sido possível "construir um Orçamento do Estado em plena pandemia que criasse patamares de exigência".
Sobre o facto de ainda não ter havido contactos para o próximo orçamento - apenas as reuniões públicas sobre o Plano de Recuperação e Resiliência - a líder do BE aproveita para fazer uma crítica.
"O Governo português tem estado muito centrado na Presidência da União Europeia. Achamos que é tempo de olhar um pouco mais para a situação do país e eu diria mesmo que mesmo para a União Europeia não seria mau se Portugal tivesse um projeto que devia ser o posicionamento da União Europeia", atira.