O projeto do CEiiA, chamado BioAvatar, está centrado na "extensão digital do indivíduo". A primeira aplicação ocorre em março de 2027.
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Num Mundo cada vez mais tecnológico importa criar inovações que sejam capazes de transformar a sociedade, sem que as liberdades individuais e coletivas sejam colocadas em causa. "Somos seres analógicos", diz José Rui Felizardo, CEO do Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto (CEiiA), mas conscientes de que não há forma de escaparmos à nossa própria extensão digital. Para que as duas esferas - analógico e digital - convivam em harmonia, o centro tem em mãos o BioAvatar, um dispositivo que permitirá ler dados biométricos, interpretá-los e interagir com os objetos em redor, como um carro.
Parece ficção científica, mas não demorará muito até ser uma realidade. Imaginemos um dispositivo - pode ser um pequeno autocolante colocado na nossa pele -, que lê os dados biométricos, como a variabilidade do ritmo cardíaco, a temperatura e a oxigenação. José Rui Felizardo, fundador do CEiiA e responsável do centro, explica que atividades quotidianas, aparentemente inofensivas, como "uma viagem de avião de longo curso", "comer feijoada" ou uma noite mal dormida têm impacto nas medições. Em último caso, afetam também a nossa performance, por exemplo, na condução de um veículo.
Liberdade garantida
O BioAvatar vai permitir uma interação com os objetos ao nosso redor, como os automóveis que, ao interpretarem os dados biométricos, vão alertar os utilizadores sobre os valores. O CEO do CEiiA garante que se tratará de uma decisão informada e nunca de uma tentativa de condicionamento do cidadão em conduzir ou não um carro. "A tecnologia não pode interferir com a liberdade de cada um", afirma ao JN. No limite, a viatura poderá estar apta a limitar a velocidade consoante os valores recolhidos nos dados biométricos, a bem da segurança rodoviária. A primeira aplicação do BioAvatar está projetada para março de 2027.
Numa altura em que proliferam os relógios e os anéis inteligentes, capazes de monitorizar a atividade física e até a recuperação desportiva, José Rui Felizardo antecipa que aqueles produtos se tornem obsoletos, não só pelo seu formato, mas também pela falta de ligação que têm com o mundo dito real e palpável, o analógico.
Há outro facto que explica o risco de os mais recentes produtos de monitorização de performance se tornarem ultrapassados: têm uma vertente comercial e não promovem uma verdadeira transformação social, aponta o responsável do centro de investigação, com polos em Matosinhos, Évora e Lisboa. Uma das missões do CEiiA, refere, é a capacidade de criar um "conceito novo", como estão a fazer com o carro BEN.
Várias áreas
O pequeno carro, já amplamente divulgado na comunicação social, está a gerar "uma nova abordagem do conceito de utilizador", em que não interessa tanto a posse de um carro, mas o uso ocasional da viatura. Trata-se de um veículo de utilização partilhada, que será comercializado como um serviço e não como um produto. No futuro, o BioAvatar poderá ser usado em interligação com o BEN. Mas o céu é o limite: a ambição é que o dispositivo que lê os dados biométricos abranja diferentes áreas e não fique "refém" de um só objeto ou instituição.
O BioAvatar está a ser projetado com "capitais próprios" do CEiiA e terá um estudo associado de 250 pessoas para testar o dispositivo, refere José Rui Felizardo. O projeto envolve diferentes áreas do saber, desde fisiologistas a médicos e sem esquecer os engenheiros.