Presidente da CEP diz que Igreja "não tem medo" e avança com organismo e regras.
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A criação efetiva de Comissão Nacional de Proteção de Menores e Adultos Vulneráreis, que coordene as 21 comissões diocesanas da Igreja Católica, e a elaboração de um manual de procedimentos comum a todas as dioceses é o que se espera que saia da reunião da Conferência Episcopal Portuguesa, que esta segunda-feira se inicia em Fátima.
"Se a Conferência Episcopal Portuguesa não apresentar uma comissão, já com nomes e funções, para tratar seriamente os abusos em Portugal, os católicos têm direito a pensar que os bispos estão a fazer "bluff" e não se preocupam com um assunto tão sério", disse, ao JN, um padre, membro de uma comissão diocesana de proteção de menores.
D. José Ornelas, bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, garante que não falta coragem aos responsáveis da Igreja. "Temos pena, mas não temos medo de enfrentar os abusos", disse, avisando que a Igreja "não pode falhar" e que é preciso "melhorar muito", criando métodos mais "expeditos, transparentes e independentes" para tratar as denúncias nacionais.
Manual de boas práticas
Entre os bispos, há quem veja esta questão a várias velocidades. Nas dioceses, às comissões locais quase não chegaram denúncias.
No Porto, D. Manuel Linda, considerou desnecessária a criação de uma comissão de proteção de menores, embora a diocese, por imposição superior, tenha criado uma. Contactado pelo JN sobre a formação de um órgão nacional pela Conferência Episcopal Portuguesa e sobre se estaria disponível para integrá-la, referiu que não se pronuncia "sobre um assunto de decisão coletiva" e cujo resultado ignora.
Para além da constituição de uma comissão nacional, da reunião (que termina na quinta-feira) deve sair ainda uma espécie de "manual de boas práticas" para que todas as comissões diocesanas tenham critérios e práticas comuns, de acordo com Manuel Barbosa, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa. "Estarmos todos sintonizados neste combate ao abuso de menores e protegermos sempre as vítimas". A Conferencia Episcopal, "se julgar conveniente, poderá tomar outras medidas, sempre no propósito de rejeitar qualquer encobrimento de casos".
Sem consenso está a constituição de uma comissão independente que investigue a situação dos abusos no seio da Igreja em Portugal, tal como aconteceu noutros países. França pode ser o exemplo de que uma comissão consegue recolher informações das vítimas que as estruturas da Igreja, sozinhas, não conseguem.
Europa
Mais de 300 mil crianças vítimas em França
Os bispos franceses reconheceram a responsabilidade institucional da Igreja Católica nos milhares de casos de abuso sexual de menores registados no seu seio, e apontaram a "dimensão sistémica" destes crimes. Uma comissão independente concluiu que mais de 300 mil menores foram abusados, agredidos e maltratados em instituições da igreja francesa durante 70 anos, entre 1950 e 2020.