Tem-se intensificado a polémica entre a hierarquia eclesiástica e o Governo da Venezuela, sobretudo quando o arcebispo de Caracas, cardeal Jorge Urosa, disse que Chávez violava a Constituição ao querer impor uma "ditadura comunista" no país, e o governante lhe chamou de "troglodita" e "indigno", e ameaçou processá-lo por injúrias.
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O todo-poderoso presidente Chávez ameaça inclusive com a revisão do convénio de 1964 entre a Santa Sé e a Venezuela. Pretende "evitar que a Igreja Católica tenha privilégios sobre as outras".
O cardeal Urosa aceitou defender as suas críticas perante a Comissão Coordenadora da Assembleia Nacional, a pedido da deputada Cilia Flores, presidente do Corpo Legislativo. O arcebispo defendeu destemidamente a liberdade garantida pela Constituição da Venezuela.
Ao sair do encontro, à porta fechada, o cardeal Urosa classificou o diálogo de cordial, sereno, com grande franqueza e, às vezes, "duro, mas com muito respeito". Recordou que os bispos venezuelanos, em cumprimento da sua missão, têm o direito e o dever de "iluminar" os seus fiéis. "Emiti as minhas apreciações como cidadão venezuelano dentro dos direitos que me são outorgados pela Constituição" - afirmou. Por isso, "exijo que cessem os ataques contra a minha pessoa que se difundem em alguns programas de meios de comunicação do Governo." Recordou que "opinei que o presidente Chávez quer levar o país pelo caminho do socialismo marxista. Pois bem: eu não disse nada novo, pois o presidente, em várias ocasiões, afirmou ser marxista" e está decidido, repete-o permanentemente, "a converter a Venezuela n um Estado socialista".
O cardeal não só defendeu o seu direito à liberdade de expressão, como criticou as leis que "afectam o pluralismo político, fundamental para a vida democrática" e que "incorporam a concepção socialista, para implantar uma pátria socialista, o que consagra como obrigatória para todos os venezuelanos uma ideologia, um sistema e um partido, o qual é alheio ao espírito e à letra da Constituição". Conclui, garantindo: "junto com os meus irmãos, os bispos da Igreja Católica na Venezuela, a nossa opção é pelos pobres e a nossa atitude é de disposição ao diálogo, de serviço ao povo venezuelano, de participação no âmbito dos direitos que nos são outorgados pela Constituição".
A Igreja não pára as denúncias contra o presidente Chávez.