Os bispos portugueses, pela voz do presidente da Conferência Episcopal, pediram, esta segunda-feira, perdão às vítimas de abuso por parte de membros do clero e deixaram um apelo à denúncia a quem vivenciou essa experiência e ainda não teve coragem para o fazer.
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"Às pessoas que passaram pela dramática situação do abuso, reafirmamos o nosso pedido de perdão em nome da Igreja Católica e o nosso empenho em ajudar a sarar as feridas", afirmou D. José Ornelas, na abertura da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que vai decorrer até à próxima quinta-feira, na Cova da Iria.
O também bispo de Leiria-Fátima expressou "profunda gratidão a quem já se aproximou para contar a sua dura história, superando compreensíveis resistências interiores" e encorajou as pessoas que ainda procuram "o momento mais apropriado para se referirem ao que nunca devia ter acontecido nas suas vidas, para que o façam".
"Estamos convosco: acompanhamos-vos na vossa dor, queremos ajudar a repará-la e tudo faremos para prevenir situações como as que tiveram de enfrentar", assegurou D. José Ornelas, revelando que o tema estará "em destaque" nesta Assembleia Plenária.
O mea culpa dos bispos acontece depois de a Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa, em funções há três meses, ter revelado que existem indícios de encobrimento de casos por parte de bispos ainda no ativo.
A par da questão dos abusos, os bispos analisarão, entre outros documentos, uma proposta sobre os ministérios laicais, que dá indicações para "uma maior participação" dos leigos na vida da Igreja, "tanto no seu aspeto celebrativo, como pastoral e missionário".
A atualidade mereceu referências na intervenção inicial do presidente da CEP, que evocou 48.º aniversário da Revolução dos Cravos, considerando que o "ideal de abril" permanece "ainda, em muito aspetos, como meta a alcançar". Contudo, reconheceu, foram dados passos "na construção de um país baseado nos valores da dignidade e da abertura sem preconceitos aos outros povos e culturas".
D. José Ornelas evocou, também, a "bárbara e incompreensível" guerra que se abateu sobre a Ucrânia, que, além da "destruição e morte", está a provocar "o agravamento das condições de vida, sobretudo das pessoas que dispõem de menos recursos".
Em jeito de conclusão, o bispo de Leiria-Fátima salientou que os temas que referiu na sua intervenção mostram "o tempo em que vivemos, onde se adensam nuvens de guerra, de luto e terror, de preocupações para o futuro". Mas, frisou, "é também tempo de iniciativas que buscam inverter processos de exploração e injustiça, curar feridas, atender a necessidades gritantes, lançar pontes de solidariedade, acender a chama transformadora da esperança".