Os bispos portugueses estão preocupados com os impactos da atual crise política na vida dos portugueses, temendo que agrave os problemas em setores como a saúde e a educação e que faça crescer o populismo.
Corpo do artigo
A preocupação foi expressa pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, na abertura da Assembleia Plenária deste organismo, que começou esta tarde em Fátima e que vai decorrer até quinta-feira.
Para o também bispo de Leiria-Fátima, a crise surgida nos últimos dias "veio trazer novos e sérios elementos de incerteza e preocupação quanto ao futuro de todos, com a possibilidade de agravamento de muitas situações". Por outro lado, com a crise, "cresce a frustração e a revolta, especialmente entre os mais vulneráveis", bem como a "desilusão e a apatia desmobilizadora, campo fértil para manipulações e messianismos populistas que minam os fundamentos de uma autêntica democracia"., adverte D. José Ornelas.
Reconhecendo que o contexto "é difícil e exige bom senso e boa vontade de todos", o presidente da CEP considera que esta é uma "ocasião para discutir os verdadeiros problemas do país e afinar políticas de recuperação e melhoria, especialmente para os que mais estão a sofrer com as sucessivas crises". Pelo que, exorta os protagonistas políticos a apresentarem propostas e soluções, para que "o povo possa ter vontade e oportunidade de fazer escolhas".
"Apesar deste panorama sério e complexo, é fundamental que não nos deixemos abater e vencer pela apatia", defende o prelado, afirmando que o momento exige participação, "seja na atividade direta e ativa na vida política, seja no elementar direito e dever de votar".
No discurso de abertura da Assembleia Plenária da CEP, o bispo de Leiria-Fátima chamou a atenção para o agravar do "fosso entre ricos e pobres", com o "escalar" dos preços das rendas e dos bens essenciais, que "fez crescer exponencialmente a conflitualidade social".
O bispo de Leiria-Fátima lembrou também as vítimas de abuso sexual às mãos de membros do clero, a quem reiterou um "profundo, sincero e humilde pedido de perdão". Deixou ainda palavras de reconhecimento ao Grupo Vita, criado pela CEP para apoio a essas vítimas, cuja ação considera que se tem mostrado "relevante e eficaz, com benefício direto para dezenas de pessoas que aí encontraram um espaço seguro e confidencial para denúncia e um apoio importante para o difícil processo de cura reparadora". O prelado assume, no entanto, que "é possível melhorar, passo a passo, no modo de agir, olhar, escutar, reparar e acompanhar".
D. José Ornelas expressou ainda preocupação pelo escalar dos conflitos no mundo, nomeadamente, pela "cruenta guerra" entre entre Israel e o Hamas. "É preciso dizer que não vale tudo, nem mesmo na guerra, que não se podem usar vidas inocentes como reféns, como escudos ou como objetos de represália e de vingança", afirmou.
Sobre a primeira sessão da assembleia geral do Sínodo dos Bispos, realizada recentemente, o presidente da CEP manifestou satisfação pela forma como decorreram os trabalhos, com o debate a abrir caminho a uma Igreja "saudavelmente descentralizada" e em "conversão renovadora", sem que tal implique uma "rutura com o seu passado e a sua história".