O Bloco de Esquerda submeteu, esta terça-feira, questões à Assembleia da República, dirigidas ao ministro da Defesa Nacional e à ministra da Administração Interna, sobre a atividade do Grupo 1143, liderado pelo neonazi Mário Machado. O partido quer saber como é que o Governo vai desmantelar a organização extremista.
Corpo do artigo
Na sequência da notícia avançada pelo JN, na segunda-feira, sobre a criação de mais de 20 grupos regionais do Grupo 1143, que espalham notícias falsas e ódio contra imigrantes na Internet e que contam com polícias e militares nos seus núcleos, o Bloco de Esquerda (BE) apresentou, esta terça-feira, um conjunto de questões ao Governo.
Num dos pedidos de esclarecimento, o partido questiona a ministra da Administração Interna sobre que medidas irá tomar para desmantelar o Grupo 1143, "uma organização contrária aos princípios constitucionais, que se dedica à prática de crime", e se o Governo tem conhecimento do envolvimento de elementos das forças e serviços de segurança no 1143.
O BE quer, ainda, saber como irá a tutela identificá-los e se considera que "os elementos da PSP e da GNR que pertencem ou colaboram" com a organização devem ser alvo de processos disciplinares, "tendo em vista a sua expulsão das forças de segurança".
Na fundamentação das questões, o líder parlamentar do Bloco recorda que as conclusões do último Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), relativo ao ano passado, alertam para um agravamento da extrema-direita em Portugal, sobretudo entre os mais novos. "Estes dados, por si só, justificam que a política criminal assuma a relevância deste fenómeno", justifica Fabian Figueiredo.
"Particular preocupação" por envolvimento de polícias e militares
O partido salienta que as discriminações racial ou étnica, de nacionalidade, ascendência, território de origem ou religião encontram-se identificadas como "crimes de prevenção prioritária" na Lei de Política Criminal, mas alega que, devido a essa configuração, "não têm tido consequências práticas, a avaliar pela sucessão de ações intimidatórias e violentas da extrema-direita em Portugal, nomeadamente no que se refere ao Grupo 1143".
Utilizando os mesmos argumentos, o partido também questionou o ministro da Defesa Nacional sobre a existência de elementos das Forças Armadas nos núcleos da milícia de Mário Machado, exigindo saber como é que irão ser tratados os casos identificados.
Mostrando "particular preocupação" pelo envolvimento dos elementos das forças de segurança e armadas, o BE nota que "a pertença a grupos violentos de extrema-direita é incompatível com os estatutos profissionais da PSP e da GNR e dos militares das Forças Armadas". "Igualmente preocupante é a informação de que entre o grupo se encontram elementos com treino militar, paramilitar e contactos internacionais com grupos de extrema-direita armados", acrescenta.
Na terça-feira, o Grupo 1143 viu suspensa a conta de Youtube, após um trabalho de investigação do jornal norte-americano "The New York Times" sobre como é que o ódio espalhado na Internet estimula a violência na vida real.