Cerca de 130 bombeiros de todo o país ficaram feridos em alguns dos mais graves incêndios deste verão. As histórias dos corajosos que ficaram em pior estado.
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"Em segundos eu e os meus quatro colegas ficámos dentro de um túnel de fogo e consegui escapar por pouco. Os meus colegas conseguiram fugir, mas eu fiquei para ligar o sistema de proteção do veículo e quando tentei fugir já era tarde." Rui Cruz, bombeiro de 47 anos, sofreu queimaduras de segundo grau em quase todo o corpo quando o fogo em Palmela, a 13 de julho, cercou o carro de bombeiros. Foi resgatado por colegas e transportado para o hospital no carro da GNR. Esteve internado uma semana e hoje está em casa a recuperar.
Rui é um dos cerca de 130 bombeiros que sofreram ferimentos nos combates aos incêndios de norte a sul do país durante este verão. E um dos cinco que sofreram ferimentos graves e estão agora de baixa a recuperar.
Para além de Rui Cruz, também Cristóvão Vinagreiro, outro bombeiro da corporação do Pinhal Novo, ficou em estado grave. Os outros são Gonçalo Coelho, de Tábua, Félix Marques, de Leiria, e Jorge Assunção, de Fajões.
Caiu de cabeça do carro
Poucos dias antes de Rui, a 10 de julho, Cristóvão Vinagreiro caiu de cabeça do tejadilho do carro dos bombeiros quando combatia um fogo em Ourém. "A minha equipa tinha acabado de proteger a aldeia de Freixianda do avanço das chamas quando fui ao tejadilho da viatura para arrumar as ferramentas. Ao descer desequilibrei-me e caí de cabeça", conta ao JN. Cristóvão partiu o braço e sofreu uma lesão no olho direito. Foi assistido no hospital de Abrantes, transportado depois para Setúbal e está a recuperar das lesões.
Em Tábua, a 3 de julho, o bombeiro de 28 anos Gonçalo Coelho, da corporação de Vila Nova de Oliveirinha, foi colhido por um veículo dos bombeiros que realizava uma manobra num combate a um incêndio florestal. O jovem estava a indicar o melhor caminho de acesso ao foco de incêndio. Foi internado nos Cuidados Intensivos em Coimbra e agora recupera.
A 14 de julho, em Leiria, Félix Marques, bombeiro da corporação de Alvaiázere, ficou ferido quando combatia o incêndio que lavrava há vários dias em Leiria. O bombeiro sofreu uma fratura no fémur e foi hospitalizado. Já se encontra em casa a recuperar.
Jorge Assunção, bombeiro da corporação de Fajões, ficou ferido após uma queda enquanto combatia um incêndio industrial em Nogueira do Cravo, Oliveira de Azeméis, a 10 de julho. Sofreu um traumatismo no ombro e está a recuperar.
Todos os bombeiros estão a ser acompanhados pela Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP). O salário dos bombeiros vai ser garantido em parte pelo seguro e o remanescente pelo Fundo de Proteção Social da Liga. "O bombeiro não pode ficar prejudicado em função de um acidente que sofre ao serviço da população", afirma António Nunes, presidente da LBP.
Nem só de fogos resultam as vítimas
Joaquim Palma, 68 anos, sofreu a 18 de julho um acidente de viação quando conduzia a ambulância de transporte de doentes não urgentes da corporação de Vila Viçosa. O bombeiro fraturou duas vértebras e esteve internado no Hospital de São José, em Lisboa, e já está em casa. Tal como os colegas que sofreram ferimentos em incêndios, está a ser acompanhado pela Liga dos Bombeiros Portugueses. A colisão com uma segunda viatura ocorreu entre Borba e Estremoz. Os três doentes que o bombeiro transportava para tratamentos de fisioterapia sofreram ferimentos ligeiros.
Período Crítico
1719 fogos ativos entre 7 e 21 de julho, o período mais crítico no combate a incêndios e nos quais estiveram empenhados 59 438 bombeiros com 15 920 viaturas e 960 aeronaves.
Porto com mais ignições no pior dia
O dia mais crítico de combate a incêndios este verão foi o dia 13 de julho. O Porto foi o distrito com mais ignições. Só neste dia houve 193 alertas de incêndio no país e estiveram empenhados quase oito mil bombeiros.