São homens e mulheres sem farda os que estão à frente das associações humanitárias do país a fazer autêntica ginástica financeira.
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Para conseguirem fontes de rendimentos além das verbas públicas, criam negócios paralelos. "Há teatros, cinemas, piscinas, creches, infantários, um conjunto de projetos que os bombeiros desenvolvem para conseguir colmatar as grandes insuficiências económico-financeiras". Quem o diz é Jaime Marta Soares, presidente da Liga dos Bombeiros, que explica que "as verbas transferidas do Orçamento do Estado e das câmaras municipais não chegam, juntas, a 50% do orçamento das associações" e "são vergonhosas".
Em Esmoriz, os bombeiros construíram uma piscina, ao passo que os de Castelo de Paiva criaram uma clínica de saúde. Num caso, ainda não há lucro, no outro, é muito reduzido. Tudo porque, muitas vezes, diz Marta Soares, "as associações ainda se substituem às câmaras para dar o mínimo de estruturas a que as populações têm direito". Fazem-se valer de associados, beneméritos, empresas e campanhas natalícias para conseguirem saldo positivo. Mas isso não chega. "Todos os dias são um sufoco na vida da maioria das associações humanitárias".
Ao todo, há 435 corporações no país, com mais de 45 mil operacionais, 95% deles voluntários. "Há duas câmaras que gastam, por ano, com os bombeiros 70 milhões de euros. E para todas as associações, o Orçamento do Estado dá 27 milhões. 98% do socorro no país é feito pelos bombeiros e são tão desrespeitados".
A Liga tem vindo a reclamar um aumento de 2,5 milhões de euros e, segundo Marta Soares, "miseravelmente, o Ministério das Finanças não autoriza, é um escândalo". E avisa: "Há associações de concelhos pequenos em declínio. Se não se aumentarem os apoios, correm o risco de fechar".
O drama das contas é tal que os bombeiros se veem obrigados a procurar meios engenhosos. Em Aljustrel, criaram uma comissão organizadora de eventos para angariação de fundos para equipamentos de proteção individual. Fazem espetáculos solidários, festas, campanhas no comércio local, workshops de suporte básico de vida. As instalações dos antigos quartéis também vão servindo às associações de fonte de rendimento. Em Vila Real, os Bombeiros da Cruz Branca alugam o quartel velho a uma loja chinesa. E também há quem tenha parques de estacionamento, como nas Caldas da Rainha e Óbidos. Ou até bombas de gasolina.
Alguns negócios dos bombeiros
Rádio Vidigueira - Além de alugarem salas de formação para cursos de adultos, os Bombeiros da Vidigueira ainda têm a rádio Vidigueira, que, mais que as receitas de publicidade, serve para a promoção da corporação.
Donos de restaurante - A associação dos Bombeiros de Almodôvar é dona de um restaurante que está aberto ao público como fonte de rendimento.
Parque de campismo - Em Mirandela, os bombeiros já tiveram a concessão de um posto de combustível e a exploração do parque de campismo. Agora, só exploram o bar e o restaurante do parque.
* Com A. B., F. P., S. B. e T. C.