Estratégias já usadas em vários agrupamentos, como paragens ao fim de oito semanas, retenções só no fim do ciclo e criação de turmas paralelas, são métodos adotados para recuperar as aprendizagens.
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No Agrupamento de Escolas do Cristelo, em Paredes, e no Agrupamento João de Meira, em Guimarães, nenhum aluno reprovou nos últimos anos letivos. As estratégias adotadas nos dois agrupamentos para combater o insucesso e o abandono escolares estão incluídas no Plano de Recuperação das Aprendizagens do Ministério da Educação, que cada escola terá autonomia para aplicar.
Mário Rocha, presidente do Agrupamento de Escolas do Cristelo, conta que, até 2016, a taxa de insucesso e de abandono era de 25%. Desde então, adotaram estratégias de tutoria, coadjuvação e mentoria entre pares para ajudarem os alunos com dificuldades e mais ninguém chumbou. Para tal, contribuiu ainda terem deixado de fazer retenções no final de cada ano letivo e adiarem essa decisão para o último ano do ciclo.
"Damos tempo aos alunos para aprenderem através de planos de recuperação. Ficarem rotulados como repetentes é desmotivante e gera uma espiral de insucesso, indisciplina e abandono", justifica Mário Rocha. "As aprendizagens essenciais de cada disciplina são realizadas por ciclo, sem que os alunos percam o referencial da sua turma, originando resultados muito bons."
Turmas paralelas
Outras características distintivas neste agrupamento consistem em proporcionar uma semana de descanso ao fim de oito de aulas, realizar trabalhos com alunos de diferentes ciclos e trabalhar em conjunto por ano de escolaridade, e não por turma. "Formamos quatro grupos dentro dos Referenciais de Intervenção Curricular, para que possam interagir com colegas de diferentes turmas. Quando se conhecem, criam cumplicidade e a indisciplina desaparece."
O Agrupamento de Escolas João de Meira também já tem em prática medidas previstas no Plano de Recuperação das Aprendizagens. Manuela Ferreira, diretora, revela que, nos últimos cinco anos, os alunos que manifestaram dificuldades foram acompanhados pelo professor titular uma hora por semana, em "turmas paralelas", enquanto o resto da turma tinha aulas com o professor de apoio.
"Aproveitamos todas as metodologias que podem ajudar a ultrapassar as dificuldades", garante Manuela Ferreira. "Desmembram" as turmas, para as tornar mais heterogéneas e para que o exemplo dos bons alunos possa ser seguido, e recorrem à mentoria e à coadjuvação. Este ano, vão ter aulas por semestres e iniciar um plano de inovação no 2.º ciclo, através da articulação entre os professores de Ciências, de Português e de Expressão Dramática.
"Subimos degraus sempre com muito esforço, mas, pelo segundo ano consecutivo, temos uma taxa de transição de 100%", assegura a diretora do agrupamento. "Fugimos às aulas expositivas e desenvolvemos trabalhos, projetos e tarefas. Depois, pomos os alunos a refletirem sobre o que aprenderam." Os encarregados de educação também são encarados como um parceiro fundamental.
"Há sempre vontade de inovar e de fazer cada vez melhor", confirma a presidente da associação de pais, Severina Oliveira. "O agrupamento tem ajudado os alunos e na inclusão, através de um acompanhamento personalizado", acrescenta. Já a presidente da associação de pais do Agrupamento do Cristelo, Conceição Mendes, destaca o facto de os pais poderem participar em várias atividades e assistir às aulas e de os alunos serem tratados todos como iguais.
Problemas já existiam antes da pandemia
"Os problemas nas aprendizagens não tiveram a ver com a pandemia, mas com o desinvestimento na escola", defende Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores. "A pandemia deu-lhes apenas mais visibilidade", sublinha. Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, confirma a escassez de recursos, mas entende que isso não pode impedir as escolas de ajudarem os alunos. "Mais preocupante é as escolas começarem as aulas sem professores."
Ações específicas
Gestão do ciclo
Possibilita organizar o desenvolvimento das aprendizagens essenciais por ciclo de estudos, permitindo estratégias diferenciadas de organização dos conteúdos e das competências a desenvolver, potenciando formas de articulação entre domínios e temas mais eficazes e eficientes.
Começar um ciclo
Criação de roteiros de apoio, com especial enfoque nos alunos do 1.º, 3.º, 5.º, 7.º e 10.º anos assim que manifestem dificuldades. Tendo em conta que o clima relacional e as áreas contempladas nas orientações curriculares foram mais afetados no pré-escolar, o plano prevê uma atenção maior no 1.º ano.
Turmas dinâmicas
Possibilita às escolas reconfigurar as turmas ao longo do ano, mas não permite a constituição de turmas segregadas ou em função de resultados académicos. A regra é a promoção da heterogeneidade e o fomento do trabalho entre alunos, previsto no Programa de Mentorias, instituído no ano letivo 2020/2021, e inspirado em práticas de várias escolas do país.