Várias mulheres brasileiras protestaram este sábado, na Praça da Liberdade, no Porto, contra as violências de que dizem ser alvo todos os dias em Portugal: assédio, exclusão, ameaças, chantagem e manipulação.
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"Qual é o crime de ser emigrante?" ouvia-se através do megafone segurado por Aline Rossi, coordenadora política da Coletiva Maria Felipa, durante o protesto que decorreu este sábado no Porto. Com o objetivo de dar visibilidade ao caso de uma cidadã brasileira que alegadamente foi violada por um agente do SEF em 2020, o grupo de mulheres aproveitou para dar voz e refletir sobre as violências que dizem viver todos os dias em Portugal.
Uma luta contra a discriminação constante, quer no trabalho, quer no acesso à habitação e à saúde juntou as várias mulheres que foram partilhando testemunhos. "Quando tentamos arrendar uma casa, ou nos dispensam automaticamente ou dizem que é uma casa de família", afirma Aline Rossi. Acrescenta que, através das redes sociais, são muitas vezes alvo de ameaças de violação, de assédio, de agressão, chantagem e manipulação. A discriminação é sentida pelos mais velhos mas também pelos mais novos. "O meu filho é luso-brasileiro e, quando está comigo, fala brasileiro, mas quando está sozinho não o faz porque é excluído", afirmou.
Medo de retaliações
Denunciar não tem sido uma solução. Na maioria das vezes, as vítimas não o querem ou desistem de o fazer porque "têm medo de sofrer retaliações". E as que chegam a fazê-lo, deparam-se com a "resistência das entidades em registar a denúncia. E isto dá a entender que é uma coisa passiva aqui em Portugal", ressalta Aline.
As mulheres queixam-se que o avanço dos tempos e a mudança de mentalidades não fazem desaparecer a discriminação e o racismo. E "a evolução do Chega em Portugal, a vitória na Itália da extrema-direita e o Bolsonaro no Brasil" mostram isso, salienta a coordenadora desta ação. "As forças políticas são uma luta constante e estes discursos xenófobo-racista são uma consequência da política", afirmou.