Setor pede incentivos e a criação de carreira profissional. Época balnear começa hoje num terço dos areais.
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Colocar nadadores-salvadores a vigiar as praias no arranque desta época balnear está ainda mais difícil, quer se trate de portugueses ou de estrangeiros. A criação de incentivos e de uma carreira poderá ajudar a atrair pessoas para esta função e esbater o problema da sazonalidade. A época balnear arrancou este fim de semana em cerca de um terço das praias de Portugal continental. De fora ficou o Norte, que avança em massa a meados do mês de junho. No entanto, mesmo sem vigilância, milhares de banhistas passaram, ontem, o dia nos areais de norte a sul.
Alexandre Tadeia, presidente da Fepons - Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores, explica que “o feedback das associações de nadadores-salvadores é de que estão até com mais um bocadinho de dificuldade em colocar nadadores-salvadores do que nos anos anteriores”. Da parte dos portugueses, “não está a haver disponibilidade”, algo a que não é alheio o facto de muitos serem estudantes e ainda terem aulas e exames. Quanto aos estrangeiros (sobretudo brasileiros e argentinos, muitos dos quais chegam a Portugal através de um protocolo estabelecido com o Instituto de Socorros a Náufragos), que são a “grande maioria dos nadadores-salvadores disponíveis para trabalhar nesta altura”, também se nota “alguma dificuldade”. Tadeia sublinha que os motivos ainda não estão estudados, mas acredita que a “mudança legislativa” relativa à manifestação de interesse para entrar no país poderá estar a contribuir para isso.
Incerteza nas contratações
A Norte, as dificuldades são menores. Carlos Ferreira, presidente da Associação de Nadadores Salvadores Os Delfins, está confiante de que não terá problemas de maior, ao contrário de "outras zonas do país, que trabalham essencialmente com brasileiros", onde está "muito difícil" conseguir a mão de obra necessária. “Como temos uma escola de formação, conseguimos ter gente suficiente nos últimos dois anos”, refere, explicando que serão quase todos portugueses, “só um ou outro estrangeiro”.
Tanto Tadeia como Ferreira defendem incentivos, como descontos nas propinas e benefícios fiscais, e uma carreira profissional. A Fepons incluiu estas e outras propostas no Manifesto pela Prevenção do Afogamento e Valorização dos Nadadores-Salvadores, que entregou aos partidos políticos. Jorge Lourenço Gorricha, diretor do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN), defendeu, há dias, que a criação de uma carreira de nadador salvador estruturada poderá conduzir à solidificação do sistema de assistência aquática e reduzir a falta de profissionais, provocada pela sazonalidade. Além de contribuir para uma diminuição nos fatores de incerteza das contratações, poderia “propiciar maiores índices de estabilidade quanto aos recursos especializados, que são a base de todo o sistema de salvamento, socorro e assistência”.
Por a atividade ter um caráter sazonal na maioria do território, o diretor do ISN assumiu ser complexa a questão da falta de nadadores-salvadores, todos os anos, aquando do início da época balnear, apesar de atualmente estarem certificados 4380.
Norte só arranca no dia 14
Neste fim de semana, a época balnear começa em cerca de um terço das praias de Portugal continental. O Norte só arranca em força a meados de junho.
A vigilância, que já está presente em algumas praias do Algarve, de Cascais e de Oeiras ao longo de maio, passou a ser obrigatória, ontem, em mais 25 areais na Figueira da Foz e de Grândola. Hoje estreiam-se mais 138 praias em Almada, Peniche, Sintra, Odemira e nas que faltavam na região algarvia. A 14 de junho, a época balnear começa em quase todas as praias do Norte (exceto nas Pedras Ruivas, Caminha, que só abre a 28 de junho) e em algumas praias do Litoral sul. Nos restantes locais, a época avança paulatinamente até ao final deste mês.
Este ano, estão identificadas 673 águas balneares em Portugal (526 no continente, sendo 365 costeiras e 161 no Interior), mais nove do que em 2024.
Projeto Seawatch com 36 veículos a patrulhar a costa
O Instituto de Socorros a Náufragos conta, este ano, com 36 veículos (34 Volkswagen Amarok e 2 ID. Buzz), no âmbito do projeto Seawatck, para apoio à vigilância e ao salvamento ao longo da costa portuguesa. É o maior contingente de sempre ao serviço da segurança balnear nacional e resulta de uma parceria com a SIVA|PHS – representante oficial da Volkswagen Veículos Comerciais em Portugal. O projeto, que já conta 15 anos, permitiu, em 2024, o salvamento de 18 veraneantes, 115 assistências de primeiros socorros e 18 buscas com sucesso de crianças perdidas.
As viaturas operacionais estão equipadas com suportes para pranchas de salvamento, macas, luzes de emergência, desfibrilhadores automáticos externos e outros equipamentos de suporte básico de vida, sendo conduzidas por militares da Marinha ao serviço da Autoridade Marítima Nacional.