Aparelhos dentários, implantes, ou destartarizações. Há mais de uma década que a Clínica Veterinária da Boa Nova, em Leça da Palmeira, é pioneira no tratamento da saúde oral dos animais e, só este ano, recebeu mais de 1600 pedidos de ajuda. Quase 20% dos pacientes vêm de Espanha e de França.
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Guiada por uma trela cor-de-rosa, Kenya entra na Clínica Veterinária da Boa Nova acompanhada pelos donos. A tarde vai ser dedicada à prova dos moldes para conseguir recuperar um canino que partiu numa queda enquanto brincava com Marco Osório, o "pai" humano, que prontamente procurou soluções para a fratura da American Bully de três anos. Consciente de que a dentária animal é uma realidade no estrangeiro, o empresário teve dificuldade em encontrar, em Portugal, quem praticasse a especialidade.
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"Tudo que eu pesquisava era no Brasil, até que encontrei o Dr. Bruno. Não sabia onde era, mas fosse em Lisboa ou no Algarve, estava disposto a deslocar-me", conta o gaiense. Extrair o dente não era opção. "Por que razão vou sacrificar o animal se há solução?".
Todos os meses, a clínica de Leça da Palmeira, Matosinhos, atende entre 130 a 150 cães e gatos só para consultas e tratamentos dentários. A procura quadruplicou nos últimos cinco anos devido à importância que estes amigos de quatro patas assumem nas famílias citadinas. "Os animais fazem parte do elo familiar e isso faz com que se procurem dentistas para eles. As pessoas reveem nos animais as mesmas situações que podem ocorrer com elas", afirma Bruno Tavares, diretor clínico da Boa Nova.
Percebi que havia a necessidade de fugir das comuns extrações e de tentar salvar dentes que eram importantes na saúde dos animais
Há mais de uma década que o médico de 35 anos, formado em veterinária, adapta nos animais os tratamentos que aprendeu na clínica dentária do pai, com o objetivo de colmatar a falha que sentiu na sua área. "Percebi que havia a necessidade de fugir das comuns extrações e de tentar salvar dentes que eram importantes na saúde dos animais". Começou pelas desvitalizações e hoje coloca implantes e até aparelhos. O sucesso da clínica fez eco além-fronteiras, de onde surge quase 20% da procura.
Na sala de cirurgia, as atenções estão centradas em Kenya, que dorme tranquila enquanto Bruno prepara a massa para os moldes com o mesmo material utilizado nos humanos. O procedimento é muito parecido, mas há uma grande diferença: os animais são sujeitos a anestesia geral para que se consiga tratá-los em segurança. "Vamos fazer uma coroa definitiva para dar resistência ao dente e garantir que quando a boca fecha e faz a sua oclusão, não haja esforço", explica o veterinário, revelando que o valor de uma coroa ou implante pode chegara aos dois mil euros. Mais de 90% dos tratamentos são funcionais e os aparelhos, por exemplo, são colocados para corrigir dentes mal posicionados na boca.
Os cães são membros da nossa família e temos que lhe dar o maior acompanhamento que pudermos
Numa outra sala da clínica, Fiori já está adormecida e posicionada no ortopantomógrafo adaptado para animais. A máquina de raio-x panorâmico, adquirida pela clínica em 2019, permite uma imagem real de todas as lesões que possam existir na boca. Feito o rastreio, nada de grave. A destartarização seguirá sem problemas. Para Andreia Ribeiro, dona da da Galguinho Italiano com seis anos, prevenir é a palavra de ordem. "Os cães são membros da nossa família e temos que lhe dar o maior acompanhamento que pudermos. Quanto mais preventivo for, mais qualidade e tempo de vida têm".
A funcionária administrativa admite que os custos dos procedimentos e a anestesia geral podem beliscar a procura, mas garante que é um investimento com benefícios. "Há cada vez mais informação e consciência por parte das pessoas. A saúde oral dos animais é uma questão básica e de grande importância".