Espaço emblemático de Guimarães mantém viva a tradição e ainda tem o mobiliário original. Se a antiguidade não bastasse para lhe garantir um espaço à parte entre os cafés vimaranenses, teria ainda a seu favor o facto de ali ter sido fundado o Vitória Sport Clube, em 1922.
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Os vimaranenses dizem "no Milenário", como se fosse o nome de uma rua ou de uma praça. Aquele espaço é parte de Guimarães. O Café Milenário celebra, este ano, 70 anos. Implantado entre o Largo do Toural e a Alameda de São Dâmaso, à sombra da Torre da Alfândega -aquela onde se lê "Aqui Nasceu Portugal" - o seu nome serve para referenciar aquele lugar.
O café é constituído por várias lojas unidas. E foi num desses espaços comerciais, na Chapelaria Macedo, que um grupo de jovens que ali se reunia para conversar sobre futebol e organizar jogos, fundou o Vitória. O dono da chapelaria, António Macedo, viria a ser o primeiro presidente do clube. Quem frequenta o Milenário conhece esta história e os que entram pela primeira vez podem lê-la na placa na parede.
"O mobiliário ainda é o da fundação, mesas e cadeiras", aponta Dulce Oliveira, a atual proprietária. É uma apaixonada pelo Milenário que conhece desde pequena. "O meu pai foi empregado desde a inauguração, em 1953. Mais tarde tornou-se sócio e, quando o fundador se quis retirar, ficou com o negócio", conta.
Está num lugar muito especial, no coração de Guimarães, o Largo do Toural
"Está num lugar muito especial, no coração de Guimarães, o Largo do Toural", afirma a proprietária, acrescentando o nome "Milenário" se deve ao facto do café ter sido inaugurado no ano em que a cidade festejava 1000 anos".
Dulce conhece todas as histórias que envolvem esta casa. Como a do fresco que se esconde atrás da parede espelhada: "Era uma cena de caça exótica, com caçadores nus. As senhoras da época não aceitaram aquilo bem, ainda tentaram pintar-lhes umas saias, mas não resultou. Acabaram por cobrir tudo com espelhos", conta.
Cliente fiel vem de Braga diariamente para tomar café no Milenário
A par com o Café, foi inaugurada, no mesmo ano, a Fonte do Centenário - que atualmente se encontra em frente à Escola Francisco de Holanda -, e que assinalava os 100 anos da elevação de Guimarães a cidade. "Talvez tenha sido o ano com mais simbolismo até à Capital Europeia da Cultura, em 2012", afirma Dulce Oliveira.
A casa tem clientes fiéis, "como um ex-bancário, reformado, que vem de Braga todos os dias para tomar café". Alguns preferem esperar de pé quando a sua mesa está ocupada, mesmo que haja outras vagas.
Os turistas, desconhecedores destes hábitos, sentam-se em qualquer lado, maravilhados com o espaço e "admirados com os preços baixos", conclui, com um sorriso, a orgulhosa proprietária.