Mais 673 óbitos do que em 2019. Calor e redução dos cuidados de saúde no pico da covid explicam.
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Entre 1 e 15 de julho morreram 4721 pessoas no país, mais 673 óbitos do que em igual período do ano passado (17%). Desde 2013 que não morria tanta gente na primeira quinzena de julho. As altas temperaturas e um menor acesso dos doentes crónicos aos cuidados de saúde nos últimos meses por causa da covid-19 serão as principais razões para o aumento da mortalidade.
O portal da Vigilância da Mortalidade, acessível a partir do site da Direção-Geral da Saúde (DGS), alertava ontem, a vermelho, para uma "mortalidade muito acima do esperado". A DGS admite que "a análise dos dados preliminares aponta para um incremento do número de óbitos por todas as causas, em relação à média do quinquénio, no período homólogo".
Já no início da semana, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, aproveitou a conferência de imprensa sobre a evolução da covid-19 para alertar para os riscos do calor e deixar conselhos à população e em especial aos grupos de risco.
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Terça-feira foi o pior dia
De acordo com os dados da Vigilância da Mortalidade, nos últimos 11 anos, só em 2013 houve mais óbitos na primeira quinzena de julho do que este ano. Naquele verão, que ficou registado como um dos mais quentes e com elevada mortalidade, morreram um total de 5221 pessoas entre 1 e 15 de julho. Chegou a haver dias com mais de 400 óbitos, o que ainda não aconteceu este julho. Até ontem às 18 horas (sistema de vigilância atualiza a cada dez minutos), o dia com mais óbitos registados na quinzena foi a última terça-feira, com um total de 395 mortes. Os grupos etários acima dos 85 anos e entre os 75 e os 84 anos são os mais afetados.
O efeito do calor sobre a saúde dos idosos e dos doentes crónicos é conhecido dos profissionais de saúde. "As temperaturas muito elevadas, tal como acontece em momentos de muito frio, descompensam as doenças crónicas", refere o diretor do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar Universitário de S. João. Jorge Almeida explica que, num dia muito quente, o corpo gasta o triplo da energia para respirar, o que no caso de doentes com insuficiência cardíaca ou respiratória pode levar a descompensações.
Ao calor soma-se outra justificação. "Este ano, temos de considerar que, durante uns meses, houve uma fuga dos cuidados de saúde pelo pânico generalizado da covid", diz o especialista. Sem o seguimento desejável, as doenças crónicas evoluem mais - "as pessoas chegam num estado mais avançado e agora enfrentam a primeira prova de esforço", nota.
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Tempo quente vai manter-se pelo menos até sábado
A estação meteorológica de Alvega (Abrantes) atingiu ontem os 41,8 graus, o máximo registado em todo o país. Em Viana do Alentejo e Nelas/Vilar Seco os termómetros marcaram 41 graus. As temperaturas acima dos 35 graus foram registadas em várias estações, segundo dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, atualizados às 17 horas de ontem. O tempo quente vai persistir até sábado.
Conselhos da DGS
Ambiente fresco
Procurar ambientes frescos ou climatizados.
Evitar álcool
Beber mais água ou sumos de fruta natural, sem açúcar, e evitar bebidas alcoólicas.
Protetor solar
Usar protetor solar, com fator superior a 30, e renovar a sua aplicação de 2 em 2 horas.
Roupa adequada
Utilizar roupa leve, chapéu de abas largas e óculos de sol com proteção UV.
Evitar esforços
Evitar esforços físicos, atividades desportivas e de lazer no exterior.
Carros ao sol
Não ficar dentro de viaturas estacionadas ao sol.
Refrescar a casa
Correr as persianas de dia e refrescar a casa à noite.
Grupo de risco
Atenção especial às crianças, idosos, doentes crónicos, grávidas, pessoas com mobilidade reduzida e isoladas.
Ligar SNS24
Os doentes crónicos devem seguir as recomendações do médico ou contactar o SNS 24 (808 24 24 24).
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508 mortes foi o máximo num dia de verão
O maior número de mortes num só dia foi atingido no dia 5 de agosto de 2018 com 508 óbitos. O segundo pico foi a 8 de julho de 2013, dia em que foram notificados 498 óbitos.
95 óbitos em excesso nos últimos sete dias
Segundo o portal da Vigilância da Mortalidade, nos últimos sete dias houve 95 óbitos em excesso, ou seja, acima do que é esperado para a época do ano tendo em conta a mortalidade nos anos anteriores.