Cada imunização custará 2,5 euros aos municípios e ficará gratuita para pelo menos 150 mil utentes. Para já, aderiram três autarquias.
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Os custos da administração de cerca de 150 mil vacinas da gripe nas farmácias comunitárias, nas mesmas condições do que nos centros de saúde, vão ser assumidos pelas câmaras. A poucos dias de arrancar a segunda fase de vacinação dos grupos de risco, apenas três municípios aderiram ao projeto que pretende aumentar a imunização da população com mais de 65 anos e ajudar os centros de saúde nesta tarefa.
A Câmara do Porto foi a primeira a disponibilizar-se para pagar este serviço farmacêutico e depois juntaram-se as autarquias de Guimarães e de Fornos de Algodres (Guarda). Duarte Santos, diretor da Associação Nacional de Farmácias (ANF), garante que "há dezenas de municípios" em vias de assinarem protocolos semelhantes.
Cada vacina administrada vai render 2,5 euros às farmácias, um valor "solidário" que não chega para cobrir as despesas com as instalações (gabinetes de vacinação e frigoríficos para armazenar as doses), com os materiais de proteção individual e consumíveis e com a formação técnico-científica dos farmacêuticos, mas que a ANF entende ser "um contributo responsável da rede de farmácias para vencer a covid-19".
Todos os anos, as farmácias vendem e administram vacinas da gripe, com comparticipação do SNS e pagamento do utente, mas é a primeira vez que participam na campanha para ajudar o Serviço Nacional de Saúde (SNS). O anúncio foi feito a 28 de setembro pelo secretário de Estado e Adjunto da Saúde. À data, António Sales informou que 10% das vacinas reservadas para a população de risco poderão este ano ser administradas em cerca de duas mil farmácias, mas não adiantou quem ia pagar o serviço nem como seria operacionalizado. Questões que a DGS não respondeu ao JN.
Nem todos poderão escolher
Após várias reuniões, ficou decidido que o Ministério da Saúde ia colaborar apenas com a cedência das vacinas do SNS e que o encargo passaria para as câmaras, com uma comparticipação marginal do Fundo de Emergência ABEM: Covid-19, da associação Dignitude.
O problema é que a segunda fase da campanha de vacinação da gripe arranca no dia 19 e mesmo que sejam firmados protocolos com "dezenas" de câmaras, dificilmente serão abrangidos os 308 concelhos do país. Ou seja, está longe de estar garantida a equidade no acesso a este serviço. Haverá municípios onde os utentes terão a liberdade de escolher entre tomar a vacina na farmácia ou no centro de saúde e outros não. Aliás, como refere a ANF ao JN, a distribuição das vacinas do SNS pelas farmácias "será feita de acordo com a disponibilidade do serviço, contratualizada pelos municípios".
Lá fora, os governos de vários países estão a aproveitar a rede de farmácias para imunizar as populações contra a gripe num ano especialmente complexo por causa da pandemia covid-19. Para a ANF, "seria justo que o Estado investisse para garantir a liberdade de escolha a todos os portugueses, como acontece em muitos países desenvolvidos".
Experiência em Loures melhorou imunização
O projeto-piloto de vacinação contra a gripe nas farmácias implementado em Loures nos dois últimos anos teve impacto na imunização. A liberdade dada aos munícipes para poderem vacinar-se numa farmácia, sem custos e nas mesmas condições do centro de saúde, aumentou em 33% a imunização da população com mais de 65 anos.
Participação das farmácias nas campanhas lá fora
Irlanda, Reino Unido, França Suíça, Canadá, Estados Unidos e Austrália são países onde as farmácias participam ativamente na vacinação contra a gripe. Os governos estão também a mobilizar os farmacêuticos comunitários para participarem na imunização contra a covid-19, quando houver vacina disponível.
Irlanda paga extra para aumentar vacinação
Na Irlanda, o Governo paga às farmácias 15 euros por cada vacina administrada. Este ano, decidiu reforçar este investimento e anunciou que vai pagar cem euros extra por cada dez pessoas dos grupos de risco imunizadas.