
Unidade de Cuidados Intensivos no Hospital de São João
Leonel de Castro/Global Imagens
Unidades têm taxa de ocupação de 91% e a média do país é de 86%. No S. João, 10% dos doentes graves têm menos de 50 anos e 30% têm menos de 60.
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As unidades de cuidados intensivos da Região Norte estão com uma taxa de ocupação de 91%, muito acima dos 80% a 85% considerados ideais para garantir o acesso rápido do doente crítico a cuidados mais diferenciados. Se nada acontecer, dentro de cinco dias a capacidade de internamento em Medicina Intensiva vai esgotar, alerta José Artur Paiva, diretor do Serviço de Medicina Intensiva do Hospital de S. João.
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Os números "preocupam" e tendem a piorar face aos milhares de novos casos que surgem todos os dias. Domingo, foram mais 6035, dos quais 4022 no Norte. Morreram mais 76 pessoas e o número de internados voltou a aumentar nas enfermarias (mais 131) e nas unidades de cuidados intensivos (mais 2), que já contam um total de 415 doentes covid-19. Face à pressão, o bastonário da Ordem dos Médicos defendeu que é "fundamental" os hospitais elevarem os níveis de contingência.
"Estamos numa zona que preocupa e, se nada ocorrer, em cinco dias a totalidade das camas de Medicina Intensiva destinada a covid-19 na ARS Norte ficará esgotada", afirmou José Artur Paiva. O também presidente do colégio de especialidade de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos esclareceu, em declarações à SIC, que o cenário de rutura se colocará "se nada acontecer do lado da resposta e também do lado da incidência da doença". Segundo José Artur Paiva, a taxa de ocupação das unidades de Medicina Intensiva de todo o país é de 86%.
João Ribeiro, diretor do Serviço de Medicina Intensiva do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, não gosta de alarmismos, mas reconhece que "estamos quase em esgotamento de recursos".
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Ainda assim, ambos os especialistas negam que os hospitais estejam a selecionar doentes por falta de capacidade de resposta. "Estamos nos nossos limites, mas não estamos na situação declarada de rutura", afiança João Ribeiro. O que não quer dizer que não possa acontecer, tendo em conta a experiência de outros países da Europa. Para melhorar a resposta, o sistema funciona em rede nos cuidados intensivos, nomeadamente em ECMO, a última esperança para alguns doentes covid-19.
Jovens e sem outras doenças
Para desmistificar algumas mensagens erradas que passaram nos últimos meses, José Artur Paiva frisa que "é falsa a ideia de que a doença nunca é grave nas faixas etárias mais jovens". Ao JN, referiu que num universo de quase 100 doentes críticos de covid-19 internados no S. João, 10% têm menos de 50 anos e 30% menos de 60. O especialista adiantou que recentemente o hospital foi resgatar um doente de 31 anos com covid-19 grave que está atualmente em suporte ECMO. "Alguns desses doentes não têm qualquer comorbilidade, per si, que lhes altere a longevidade", assegurou.
