Se vir pela estrada um grupo de trinta almas de Évora a arrastar os pés e a rezar com entusiasmo, ou pelo menos murmurar, entre queixumes e Ave-Marias, é o grupo dos Salesianos, que está desde terça-feira na peleja de caminhar até Fátima.
Corpo do artigo
O pelotão vai comandado pelo coronel Rogério Copeto que, por estes dias, trocou as botas da Guarda Nacional Republicana (GNR) por umas sapatilhas, com palmilhas reforçadas, e uma fé à prova de bolhas nos pés.
Ao lado do coronel, segue firme a já famosa “Generala” Elsa Lima, a mulher que desde 2019 mantém o pelotão de peregrinos em marcha, mesma que os pés já tenham reclamado a reforma antecipada. Foi ela quem, entre promessas de empurrões espirituais, desenvolveu o grupo a meter-se nesta jornada, ou por promessa, ou por agradecimentos, ou por teimosia abençoada.
“Cada um caminha com as suas dores e as suas razões, que este ano incluem também promessas do foro clubístico, encontrando-se neste aspeto o grupo dividido, mas o destino é o mesmo: Nossa Senhora de Fátima”, confessou ao JN Rogério Copeto, tentando disfarçar as dores musculares com um sorriso de quem já esqueceu o que é um colchão.
“É a fé que nos segura, e a ajuda da GNR, claro, cujo apoio dado no âmbito da Operação Peregrinação Segura 2025, tem sido fundamental, porque na estrada todos os cuidados são poucos”, justifica o oficial, que deixou os galões da Guarda em casa.
A coluna conta também com o apoio de carrinha dos Salesianos, ordem fundada por Dom Bosco, conduzida por Filipe Simão, e porque este ano o grupo é o maior de sempre, há um segundo carro de apoio, onde uma dupla composta por Maria Pica Faia e Donzilia Chinita Copeto, que trocaram as sapatilhas pelo volante, contribuindo assim para que o esforço de quem caminha seja mais fácil.
Os voluntários da Ordem de Malta tratam das mazelas específicas, porque a força espiritual é da responsabilidade do padre Rafael, que ainda encontrou tempo para celebrar uma missa campal na praia fluvial da barragem de Montargil (Ponte de Sôr), “porque se é para rezar, que seja com vista privilegiada”, garante Rogério Copeto.
A etapa mais brava, o “Prémio da Montanha” é a Serra dos Candeeiros, “onde se testa não só a resistência física, mas a sinceridade das promessas. O plano é chegar na segunda-feira a Fátima logo após o almoço, antes de atingir o limite de bolhas nos pés e que os músculos se revoltam de vez, para participar na procissão das velas, com lágrimas nos olhos, seja de emoção ou de cansaço”, concretizou o oficial.
Seja qual for a motivação de cada um, uma coisa é certa: “no final, todos chegam diferentes, mais cansados, mais espirituais e com histórias suficientes para mais um ano de conversas, porque peregrinar é uma caminhada cheia de tropeços, sorrisos e uma fé que ninguém explica, só se sente”, justificou o alentejano de Évora.
A caminhada entre Évora e Fátima comporta seis etapas, com paragens e descanso em Arraiolos, Mora, Foros do Arrão, Ulme e Riachos, num total de 180 quilómetros.