Caos nas Urgências não chegou ao S. João: "Nada nos diz que estamos no pico da gripe"
A época festiva e as baixas temperaturas estão a pressionar os serviços de Urgência de todo o país, com alguns a atingirem tempos de espera superiores a dez horas. Porém, no Hospital de São João, no Porto, a situação "está controlada" e o inverno está a ser, até agora, "um bocadinho melhor" do que no ano passado.
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O estacionamento reservado às ambulâncias que chegam ao Hospital de São João nunca está vazio. Os veículos encarregues pelo transporte de doentes, oriundos de diferentes geografias da Área Metropolitana do Porto, chegam e partem com muita frequência, contribuindo para o rodopio habitual de um dos maiores centros hospitalares do país. Ainda assim, para uma segunda-feira - dia tendencialmente com maior procura - o ambiente é aparentemente tranquilo.
"Não temos nada que nos diga que é uma segunda-feira de gripe, de todo", garante Cristina Marujo, diretora do Serviço de Urgência (SU) do Hospital de São João. Depois de dois dias "intensos" na semana passada, o fim de semana decorreu dentro da normalidade, num arranque de semana "com mais doentes, o que é próprio de uma segunda-feira", mas com a "situação controlada".
A constatação da profissional de saúde é comprovada na sala de espera da Urgência onde estão, pelas 11.30 horas, seis utentes. Com uma pulseira amarela, Rosali Oliveira aguarda que a chamem para descobrir a causa da "crise" que a deixou mal-disposta ao acordar, com sintomas de fraqueza, enjoos e rigidez muscular. "Estou aqui para fazer alguns exames, alguma coisa para descobrir o que me dá", partilha a mulher de 52 anos, que depois de uma triagem sem demora, esperou uma hora e meia para ser observada por um médico.
Com uma máscara a proteger-lhe o rosto, Paulo Matias está com sintomas gripais e, por isso, optou por ir à Urgência. Por ser considerado um doente não-urgente, foi-lhe atribuída uma pulseira verde e, por isso, sabe que terá de esperar. Não se importa. "É bom prevenir para que depois não agrave", considera o homem de 42 anos, auxiliar de armazém.
"Os profissionais estão a fazer o melhor que podem"
Durante a manhã, o tempo médio de espera na Urgência do S. João fixou-se numa hora e 15 minutos para os doentes urgentes, de acordo com o portal do Serviço Nacional de Saúde, menos de metade do tempo verificado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde no domingo os utentes esperaram mais de 16 horas. No Porto, "ainda não foi preciso fazer nada diferente" do que no resto do ano, estando o hospital a trabalhar "com o número de profissionais que é determinado normalmente, ao longo do ano".
Segundo a diretora do SU do S. João, para evitar constrangimentos nas Urgências, é importante que a população "siga todas as recomendações que são dadas, nomeadamente aquela de ligarem para a linha SNS 24" e que não se dirija ao hospital "sem ter essa indicação". "Estar num serviço de urgência com muitos doentes com infeções respiratórias, muita gente acumulada, não é bom. Não é bom para os doentes que têm mesmo que lá estar, nem para os outros que não têm que lá estar. Então para esses é pior ainda porque correm o risco de apanhar doenças que não levavam", alerta Cristina Marujo.
A médica garante que "os profissionais de saúde estão a fazer o melhor que podem" para enfrentar um período habitualmente mais desafiante nos hospitais. Ainda assim, o inverno no S. João "está a ser um bocadinho melhor" do que no ano passado. "Nada nos diz que estamos no pico da gripe. Há outros anos em que esta época já é uma época de gripe a sério, que colica com o pós-festas e que se torna um bocadinho pior. Portanto, parece-me que eventualmente venha um bocadinho mais atrasada. Vamos ter de esperar ainda para ver o que é que vem por aí. Acreditamos em dias piores, mas para já ainda não", afiança a profissional de saúde.
Privilegiar a vacinação e adotar cuidados
Ainda que a situação esteja controlada, todo o cuidado é pouco, numa altura em que se conjugam dois fatores de risco: grande circulação de infeções respiratórias e baixas temperaturas. De acordo com Miguel Cabral, coordenador do Plano de Inverno da Unidade de Saúde Local (ULS) São João, a unidade hospitalar está a conseguir dar uma resposta adequada, num "momento com alguma tranquilidade", mas a população tem tido um papel fundamental. Quer seja através da vacinação ou do cumprimento das regras de etiqueta respiratória, os utentes devem proteger-se e não desvalorizar o frio.
"Temos tido um inverno relativamente atípico, tivemos temperaturas elevadas quase até meados de dezembro e, por isso, quando o frio chegou, se calhar parte da população não estava muito atenta à componente do frio", afirma o médico de Saúde Pública, ressaltando que optar por várias camadas de roupa, proteger as extremidades e não decurar a hidratação são medidas preventivas necessárias nesta altura do ano.
De acordo com Miguel Cabral, nesta época "não faltam diferentes vírus em circulação", sendo que o subtipo B da gripe é o que "está em maior preponderância neste momento", ainda que haja ainda a vertente A e o SARS-CoV-2, associado à covid-19. "Daí que também seja normal, por vezes, que surja uma infeçáo e passado uns dias ou umas semanas surje outra também porque estamos expostos a muitos desses vírus", explica o coordenador da ULS São João.
O profissional de saúde lembra que a vacinação contra a gripe e a covid-19 continua a ser uma "camada de proteção" importante para evitar os casos graves das doenças que estão abaixo dos verificados em 2024.