
ECDC destaca um "aumento prepocupante" de casos de sífilis, gonorreia e clamídia
Foto: Maria João Gala / Global Imagens
O Centro Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla em inglês) alerta para um "aumento preocupante" de doenças sexualmente transmissíveis, com casos acima dos valores pré-pandemia.
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O número de novos casos de doenças sexualmente transmissíveis (DST) continua a aumentar em Portugal e na Europa, ultrapassando os valores pré-pandemia. No caso da gonorreia, Portugal registou uma subida, em 2022, de 80% face ao ano anterior, com 2253 diagnósticos, uma taxa de 21,8 casos por 100 mil habitantes, que compara com uma taxa europeia de 17,9.
Os dados acabam de ser revelados na manhã desta quinta-feira pelo ECDC, que destaca "um aumento prepocupante de casos de sífilis, gonorreia e clamídia, indicando uma necessidade premente de uma maior sensibilização para a transmissão de DST e a necessidade de melhorar a prevenção, o acesso a testes e o tratamento eficaz para enfrentar este desafio de saúde pública". De acordo com o centro, os casos de gonorreia no espaço europeu estão ao nível mais alto desde que se inciou a sua monitorização, em 2009.
Gonorreia: prevalência nos 20-24 anos
No caso da gonorreia, os dados do ECDC apontam para uma subida da taxa de notificação nos 28 países da União Europeia / Espaço Económico Europeu (UE/EEE) analisados de 48% face a 2021 e de 59% face a 2018. Com uma maior prevalência na faixa etária 20-24 anos, tanto nos homens (99,6 casos por 100 mil) como nas mulheres (48,1 por 100 mil). Sendo que nas mulheres, frisa aquele centro, naquele grupo etário o crescimento foi de 63% quando comparado com 2021.
Analisando os dados para Portugal, foram notificados 2253 casos de gonorreia, mais 80% face a 2021. Que compara com os 846 registados em 2018, quando a taxa estava nos 8,2 casos por 100 mil habitantes. No relatório epidemiológico relativo a 2021, conforme o JN noticiou, o ECDC destacava mesmo o facto de, no período 2012 a 2021, sermos o país, entre os 26 na altura avaliados, com o crescimento mais expressivo: +1089%.
Sífilis em crescendo
Com uma taxa de notificação acima da média de UE/EEE está também a sífilis. Que, aliás, em contraciclo com o verficado em 2020, continuou a subir mesmo aquando dos confinamentos. Em 2022, Portugal registou 1534 casos, colocando a taxa nos 14,8 casos por 100 mil habitantes, acima dos 8,5 apurados para os 29 países analisados. Sendo a sexta mais alta daquele conjunto. Em 2018, o número de novos casos de sífilis ficava-se pelos 255.
Também pela negativa, Portugal destaca-se na análise aos casos de sífilis congénita, ou seja, transmitida ao bebé pela mãe. Em 2022, registaram-se 14 casos, menos um do que no ano anterior, colocando a taxa de notificação nos 16,7 casos por 100 mil, quando a taxa média de 30 países fixou-se nos 2,4. Pior do que nós só mesmo a Bulgária, com 24 casos identificados em 2022.
A única DST analisada em que a taxa nacional fica abaixo da média da UE/EEE é a clamídia, nos 14,5 casos por 100 mil habitantes, que compara com uma média europeia de 88 por 100 mil. De acordo com o ECDC, no espaço europeu a incidência aumentou 16% face a 2021 e 15% face a 2018. No nosso país, foram identificados 1501 casos em 2022, mais do dobro face a 2018.
Especialistas querem testes comparticipados
Conforme o JN noticiou no início deste ano, os especialistas defendem a comparticipação dos testes PCR à gonorreia e à clamídia, para que assim possam ser prescritos pelos médicos de família. O que está dependente da publicação das normas clínicas, elaboradas pela "task force", nomeada já no final de 2019 pela Direção-Geral da Saúde para desenvolver um plano estratégico para as DST. Só assim, explicavam na altura, se pode travar cadeias de transmissão e iniciar os tratamentos mais cedo. Contudo, ainda nada avançou.

