Catarina Martins e Jorge Pinto convergem à Esquerda, mas divergem sobre Europa

A visão sobre a UE foi o ponto de maior fricção entre os candidatos
Foto: Francisco Romão Pereira / RTP
Catarina Martins e Jorge Pinto protagonizaram, na noite deste domingo. um debate marcado por fortes convergências programáticas, mas também por diferenças claras na visão sobre a União Europeia, o papel do presidente da República e a hipótese de desistirem a favor de António José Seguro.
O debate, que decorreu sempre em ambiente morno, revelou uma Esquerda próxima nos diagnósticos, mas nem sempre alinhada nas respostas políticas e estratégicas. Ambos concordaram que o país atravessa um momento de desequilíbrio institucional, com "Governo à Direita, Parlamento à Direita e grandes cidades à Direita", como sublinhou Catarina Martins, mas divergiram no modo como Portugal deve posicionar-se na Europa e na leitura do papel presidencial.
A deputada apoiada pelo Bloco de Esquerda defendeu que "o país precisa de uma presidente da República que ajude a equilibrar o quadro das instituições democráticas" e que use Belém para "lançar debates fundamentais" sobre habitação, saúde, trabalho e pensões. "Uma proposta que ponha em causa as pensões, por mim, não passa", afirmou, garantindo que exercerá o cargo como "última linha de defesa do sistema".
Jorge Pinto assumiu-se como "europeísta crítico, mas convicto", defendendo que "o futuro português passa pelo projeto europeu" e alertando para os riscos de enfraquecer essa aposta. "Eu não vou desistir da União Europeia, como não desisti de Portugal em tempos difíceis", disse o candidato apoiado pelo Livre, defendendo uma Europa mais forte, democrática e capaz de se afirmar face a lideranças autoritárias.
Estratégia europeia com visões diferentes
A visão sobre a UE foi o ponto de maior fricção. Jorge Pinto recordou posições críticas antigas do Bloco, enquanto Catarina Martins respondeu que "a unidade europeia não é garantida, é uma disputa política", defendendo uma participação portuguesa "ativa, democrática e concreta". "Isto é fazer Europa", sublinhou, apontando exemplos como os direitos reprodutivos ou a oposição ao financiamento europeu a Israel.
Na área da segurança e defesa, Jorge Pinto defendeu uma maior cooperação europeia autónoma dos Estados Unidos, enquanto Catarina Martins alertou que "os líderes autoritários também estão sentados no Conselho Europeu", insistindo numa abordagem ancorada nos direitos humanos.
Recusam desistência
A regionalização surgiu como outro ponto de contacto. Jorge Pinto prometeu convocar uma Assembleia Cidadã dedicada ao tema, enquanto Catarina Martins lembrou que "a Constituição obriga-nos a avançar com a regionalização", defendendo que existem propostas já trabalhadas que ficaram "na gaveta".
Questionados sobre a hipótese de desistirem a favor de António José Seguro, para assim aumentarem as hipóteses de haver um candidato de Esquerda na segunda volta, ambos afastaram esse cenário. Catarina Martins rejeitou a lógica do "mal menor": "Se desistirmos de afirmar as ideias, o mal maior cresce.", disse. Jorge Pinto foi igualmente claro: "Não vou desistir em função das sondagens. Vou à luta pelas ideias."
Apesar das diferenças, ambos assumiram como central a defesa da Constituição, do Estado Social e da democracia, num debate que expôs tanto as afinidades como as fronteiras políticas entre duas candidaturas da Esquerda presidencial.

