Portugal permanece um país católico, não restarão dúvidas. Assim o diz a Igreja, assim o confirmam os únicos dados estatísticos relevantes, velhos de nove anos. É só no capítulo das vocações sacerdotais que a crise da fé é assumida.
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Quando os anos acabam no algarismo 1, faz-se, em Portugal, o Recenseamento Geral da População. É no ano que vem, portanto, que voltará a ser encetado o processo de aferição dos indicadores gerais da população, incluindo-se aí a habitual pergunta sobre religião, dirigida a residentes com 15 ou mais anos. Uma pergunta que não é de resposta obrigatória: respeita o carácter intimista da religiosidade, mas não garante um retrato exacto, embora a margem de erro seja pequena.
Daí que, num total de 8 699 515 respostas, dadas em 2001, o Catolicismo tenha sido assumido por 7 353 548 pessoas, ou seja, 84,5% dos respondentes. O Vaticano apresentou recentemente, a propósito da viagem papal, números ainda mais optimistas, dizendo que 88,3% dos portugueses se afirmam católicos, mas sem qualquer base clara para o afirmar, referindo que essa era a situação a 31 de Dezembro de 2008.
Nos números da Igreja há que ter em conta, por exemplo, que as pessoas que recebam o sacramento do baptismo são, para o resto da vida, consideradas como católicos, mesmo que tal choque com as opções religiosas (por outro credo, ou por credo nenhum) tomadas na idade adulta. Sendo a generalidade das pessoas baptizadas ainda bebés, é evidente que não se trata de uma opção voluntária, e, se o direito canónico prevê processos de anulação do baptismo e de apostasia (desligamento do Catolicismo), que nem são assim tão complexos, pouca gente se dá a esse trabalho, mesmo não tendo sentimento de pertença à Igreja.
No seio da própria Igreja há, porém, indicadores mais clarificadores, como o Recenseamento da Prática Dominical, feito, também em 2001, nas paróquias portuguesas, segundo o qual o número de fiéis praticantes não chegava aos dois milhões de pessoas. Tal coincide com um recente estudo acerca de um fenómeno pontual de religiosidade, as peregrinações a Fátima. Graça Poças Santos, investigadora do Instituto Politécnico de Leiria, concluiu que um terço dos visitantes do santuário são católicos não praticantes (maioritariamente mulheres, com média etária de 50 anos, pessoas casadas e com formação escolar igual ou inferior ao segundo ciclo do Ensino Básico).
No clero português, a crise parece instalada. De 2000 a 2008, o número de padres diocesanos baixou de 3159 para 2825, enquanto os das ordens religiosas baixaram de 1078 para 972. Há, também, menos gente a frequentar os seminários (Filosofia e Teologia). Em 2000, eram 547, entre diocesanos e religiosos, passando para apenas 444 em 2008.