Competência da comissão liderada por Strecht elogiada por signatários de carta que pedia investigação independente.
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Depois das reservas iniciais, alguns dos católicos que subscreveram a carta aberta a pedir à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) uma investigação independente aos abusos sexuais na Igreja manifestam confiança na equipa escolhida. Liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, a comissão junta outros cinco especialistas, entre os quais Laborinho Lúcio, juiz jubilado e ex-ministro da Justiça, e o psiquiatra Daniel Sampaio.
Nuno Caiado, primeiro subscritor daquela carta, fala de "um excelente naipe de pessoas", de "grande valia intelectual", capaz de assegurar "a independência e qualidade técnica" do trabalho. Este especialista em reinserção social acredita ainda que a equipa, anunciada quinta-feira, conseguirá "assegurar a blindagem necessária para travar eventuais tentações de controlo por parte da Igreja".
"A equipa dá segurança quanto à sua independência e esperança no futuro", afirma Nuno Caiado, assumindo, no entanto, que preferia um outro modelo, que passasse pela contratação de uma ou de mais "universidades com tradição e experiência nesta matéria", opção seguida na Alemanha.
Também José Manuel Pureza, deputado do BE que subscreveu aquela carta, se manifesta agradado com a solução encontrada. O jurista acredita que, com a "competência" e o "prestígio" que lhe é reconhecido, a equipa conseguirá conduzir um processo de investigação "muito capaz e atento aos silêncios" das vítimas, conseguindo também "ultrapassar obstáculos que possam surgir" associados a um processo desta natureza.
A expectativa de José Manuel Pureza é que a equipa consiga fazer o seu trabalho de forma "totalmente livre" e que lhe seja dado acesso "a toda a informação" necessária para fazer "um retrato fiel" da realidade em Portugal e propor medidas que "erradiquem a vergonha dos abusos".
Por seu lado, o jornalista Jorge Wemans confessa-se "surpreendido pela positiva" com a constituição da comissão, que considera "verdadeiramente independente e muito capaz". Diz ainda esperar que, "tal como aconteceu em França", a criação desta equipa possa incentivar outras áreas da sociedade portuguesa, como escolas e instituições que lidam com crianças, a avançar com iniciativas idênticas. Será a Igreja a financiar o funcionamento da comissão.
Discurso direto
Nuno Caiado, primeiro subscritor da carta
"Equipa dá segurança quanto à sua independência. Acredito que terá a blindagem necessária para travar eventuais tentações de controlo por parte da Igreja"