Entre um "sinal positivo" dado pela Igreja portuguesa e expectantes quanto à composição da nova comissão que vai analisar os abusos sexuais na igreja portuguesa, os católicos que subscreram a carta aberta esperam que se vá ao fundo da questão. Sem "hipocrisias".
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Primeiro subscritor da carta-aberta tornada pública por mais de 250 católicos defendendo uma investigação independente aos abusos sexuais na igreja, Nuno Caiado considera a decisão dos bispos portugueses de aprovar a constituição de uma comissão nacional para investigar abusos sexuais na Igreja "um pequenino passo em frente, mas insuficiente".
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No seu entender, é fundamental que a comissão que foi decidida esta quinta-feira por unanimidade na Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portugues (CEP) seja dotada de "um mandato verdadeiramente independente, que seja metodologicamente correta e disponha de um conjunto de pessoas capazes de levar a cabo e que garanta essa independência".
Por seu lado, Eugénio Fonseca, ex-presidente da Cáritas, confessa-se "satisfeito" com a decisão dos bispos, mas expectante em relação à composição da comissão, que deve ser "plural em termos técnicos e de convicções de fé". Pede, por isso, que haja "capacitação" e "qualificação" das pessoas que venham a integrar a comissão e que tenha "total liberdade para desempenhar a sua missão.
"É um passo importantíssimo que a Igreja em Portugal está a dar, através da sensatez da sua hierarquia, para que não fique nenhuma réstia de dúvida sobre um problema que tanto tem afetado a credibilidade da Igreja", disse ao JN Eugénio Fonseca.
Para a médica Isabel do Carmo, que também subscreveu a carta, a decisão agora anunciada pela CEP "é um sinal positivo" dado pela Igreja. "Quero acreditar na independência da comissão, que, para funcionar, deve fazer um apelo público à denúncia, com identificação dos autores e descrição dos atos de abuso e assédio", defende. Embora admita que possa haver quem possa desejar que "não se mexa e exponha os segredos da igreja", quer acreditar que "uma comissão inteira não vai ser hipócrita a esse ponto".
"Uma comissão nomeada pela CEP está ferida de morte", afirma, por seu lado, Jorge Wemans. O jornalista, um dos católicos que assinou aquela carta, entende que deveria ter sido seguido o modelo francês, com uma comissão constituída "fora da Igreja", ou o de algumas dioceses alemãs, que recorreram a "sociedades de advogados para investigar com toda a liberdade e acesso a documentos" das instituições eclesiais.
"Não vai ser ser a CEP a controlar esta comissão. Queremos que tenha credibilidade e independência para investigar", garantiu o líder da CEP, D. José Ornelas, na conferência final, assegurando que o grupo de trabalho terá acesso aos arquivos históricos das dioceses "se essa for a sua decisão".
Também "não haverá nenhum limite temporal à investigação", assegurou D. José Ornelas, que expressou o desejo de que o trabalho possa ser iniciado "o mais rápido possível", sem, contudo, se comprometer com prazos.
Interrogado sobre se a Igreja foi sensível à carta aberta tornada pública por mais de 200 católicos defendendo uma investigação independente aos abusos sexuais na igreja, o presidente da CEP respondeu que "a carta vai ao encontro das preocupações da Igreja".