O secretário-geral do PCP considerou, esta quinta-feira, que a União Europeia quer transformar Portugal "num 'resort' e numa escola de formação profissional", salientando que o país não se pode resignar a essas funções e tem de produzir mais.
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Num discurso no final de uma sessão pública da CDU sobre produção nacional na Maia, distrito do Porto, Paulo Raimundo voltou a acusar PS, PSD, CDS, "e os seus comparsas da Iniciativa Liberal (IL) e do Chega", de andarem "submissos, vergados e de joelhos perante as imposições da União Europeia", que é "o mesmo que dizer, perante um instrumento nas mãos dos interesses das multinacionais".
"Essas multinacionais que determinam que, na Alemanha, há produção industrial, em França há produção agrícola e o que sobra para Portugal são duas questões: (...) querem transformar o país num 'resort' turístico e numa escola profissional de formação", disse.
O líder do PCP defendeu que querem que se formem em Portugal "os médicos, os enfermeiros, os soldados, os canalizadores, os trabalhadores altamente especializados, para depois daqui saírem e irem criar riqueza nos países deles: na Alemanha, na França, na Áustria, na Holanda e por aí fora".
"Ora, o nosso país, pequenino, à beira mar plantado, mas com uma história, capacidades, meios e recursos, não pode permitir que seja resignado para estes dois papéis: 'resort' e formação profissional", disse.
Paulo Raimundo defendeu que os portugueses não podem "ficar satisfeitos com um país que seja uma colónia de férias" e considerou que é necessário "pôr Portugal a produzir e pode produzir mais, como já produziu, desde logo para importar menos".
Advertindo que se, Portugal não alterar o seu rumo, vai perder os seus trabalhadores mais altamente qualificados, Paulo Raimundo defendeu também que é preciso que a formação profissional em Portugal tenha tradução na produção nacional.
"Não é compreensível que nós tenhamos uma situação em que esperamos anos, anos e anos primeiro para decidir comprar uma carruagem, e depois esperemos mais anos, anos e anos para que outros as façam, para nós as comprarmos", sustentou.
Para o secretário-geral do PCP, Portugal não pode continuar a "permitir uma situação em que o país recebe milhares e milhares de euros de fundos comunitários, que são atribuídos às empresas" e que depois vão à Alemanha comprar máquinas.
"A Alemanha manda o dinheiro para cá e, chegando cá, volta para a Alemanha porque é lá que vamos comprar as máquinas. (...) Isto não é compreensível e não é assim que nós nos desenvolvemos", disse.
Esta ideia foi também defendida pelo cabeça de lista da CDU às europeias, João Oliveira, que, num discurso antes de Paulo Raimundo, salientou que, com o encerramento da SOREFAME, Portugal vê-se obrigado a comprar comboios ao estrangeiro: à Espanha, China e Áustria.
"Há uns tempos falou-se de investimento do PRR para garantir o proclamado projeto do chamado comboio português. Fizeram-se umas conferências de imprensa, mas os comboios continuam a ser comprados ao estrangeiro? Mas porquê? Porque os governos de turno estão aos interesses das multinacionais", acusou.
No seu discurso, Paulo Raimundo recorreu à ironia também abordar a descida das taxas de juros anunciada pelo Banco Central Europeu (BCE). "Ainda há pouco vínhamos do Porto para cá, eram marchas de bandeira, tudo a festejar estes 0,25% de quebra nas taxas de juro. Eu próprio já fiz contas a quanto é que isso me vai dar na quebra da minha prestação para o mês que vem: vamos lá ver se não vou aproveitar para beber um café longo e não curto. Deve dar para isso", ironizou.