Executivo corrigiu o discurso e esclareceu que não restringiu eventos devido à morte do Papa. Oposição apela à participação em massa no dia da liberdade.
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Os tradicionais desfiles do 25 de Abril saem amanhã à rua e a polémica acerca da “reserva” pedida pelo Governo na celebração da Revolução dos Cravos deverá marcar o tom dos discursos. Após ter anunciado, anteontem, o cancelamento da “agenda festiva” devido ao luto nacional de três dias decretado pela morte do Papa Francisco, o Governo corrigiu o discurso e frisou que não restringiu os eventos.
O esclarecimento surgiu ontem, na sequência das críticas lançadas pelos partidos de Esquerda e por várias entidades, que acusaram o Executivo de “desrespeitar” a data. A “falha” de comunicação levou mesmo a que várias autarquias adiassem ou cancelassem as comemorações marcadas para esta sexta-feira.
Numa nota enviada às redações, destinada a deslindar as “dúvidas suscitadas” pelo diploma aprovado na véspera, a presidência do Conselho de Ministros esclareceu que o decreto que instituiu o luto nacional “não impõe ou fixa, ele próprio, quaisquer medidas ou restrições específicas” às celebrações do dia da liberdade. “As opções de conduta definidas pelo Governo aplicam-se aos seus membros, e em nenhum momento foram dadas instruções relativamente a atividades de outras entidades (incluindo municípios e associações) ou das populações”, lê-se na nota.
O Governo anunciou que a festa prevista para a residência oficial do primeiro-ministro foi adiada para o Primeiro de Maio, mas que os jardins estão este sábado abertos com distribuição de cravos.
“Desvalorizar” o dia
Em resposta, a Associação 25 de Abril, liderada por Vasco Lourenço, incentivou à participação cívica e lamentou que o luto nacional abranja o dia em que se comemoram os 51 anos da Revolução dos Cravos, defendendo que, se o Papa fosse um militar português em 1974, “decerto seria um Capitão de Abril”. Na mesma linha, Pedro Nuno Santos afirmou que Francisco “era um amante de liberdade”, acusando o Governo de “cometer um erro”. “A melhor resposta que nós podemos dar (...) é participarmos em força nas celebrações”, exortou o secretário-geral do PS.
Já Rui Tavares, líder do Livre, sugeriu que o Governo cancelou a agenda para agradar ao eleitoral do Chega, enquanto Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco, acusou o Executivo de “desrespeito pela liberdade”. O PCP considerou que não se presta homenagem ao Papa com cancelamentos, mas sim, reafirmando os valores da paz e da justiça.
O tema foi também abordado pelo social-democrata e candidato presidencial Luís Marques Mendes, que apesar de não comentar diretamente a polémica, rejeitou que haja uma “contradição” entre o luto do Papa e o “entusiasmo” pelo 25 de Abril.
Parecer negativo não trava extrema-direita
A PSP emitiu um parecer negativo para as iniciativas marcadas para amanhã por movimentos de extrema-direita no Martim Moniz, em Lisboa. A força de segurança tinha anunciado, ontem de manhã, que estava a fazer uma nova avaliação de risco, após ter inicialmente considerado que não havia indícios de desordem pública.
Apesar do parecer negativo, o presidente do Ergue-te, Rui Fonseca e Castro, garantiu, num vídeo partilhado nas redes sociais, que o partido vai manifestar-se naquele local. O anterior Partido Nacional Renovador (PNR) alega tratar-se de “um evento organizado por um partido político” inserido na campanha para as eleições de 18 de maio e, por esse motivo, “não pode ser proibido”.
A PSP justificou que, após analisar “todas as dinâmicas e contextos que possam perturbar a ordem pública”, optou pelo parecer negativo para “garantir a ordem e tranquilidade”.