CEO da TAP reuniu-se com Medina e não foi avisada de que seria demitida no dia seguinte
A CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, disse, esta terça-feira, que teve uma reunião com Fernando Medina na véspera do anúncio da demissão do cargo e em nenhum momento foi informada de que seria demitida com justa causa, apenas que a "situação estava complicada".
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Durante a audição na comissão de inquérito à TAP, a deputada do BE Mariana Mortágua perguntou a Christine Ourmières-Widener se não tinha tido nenhum contacto ou nenhuma notificação da tutela, antes da conferência de imprensa de 6 de março, a informar que seria demitida.
"Eu tive uma reunião com o ministro das Finanças no domingo à noite antes da conferência de imprensa e durante essa discussão ele expressou que a situação estava complicada, mas não me deu a informação que seria demitida com justa causa no dia seguinte", respondeu depois de consultar por breves momentos os dois advogados que a acompanham.
Segundo a ainda CEO da TAP, foi-lhe dito que "havia uma conferência, mas nunca lhe foi explicada a natureza do que aconteceu no dia seguinte".
Ourmières-Widener disse ainda que lhe foi pedido que se demitisse, numa reunião com Fernando Medina, na véspera do anúncio público da exoneração dos presidentes da companhia, apesar do reconhecimento do "trabalho fantástico" da gestora.
Questionada pelo deputado do PSD Paulo Moniz, na comissão de inquérito à TAP, sobre uma reunião em 05 de março, com o ministro das Finanças, na véspera do anúncio público da sua exoneração, Christine Ourmières-Widener assumiu que foi um encontro "pesado". "Pediram-me que me demitisse", revelou a gestora, depois de admitir que é um assunto "ainda muito doloroso" e de consultar os advogados que a acompanham.
Ourmières-Widener adiantou ainda que quando o ministro das Finanças, Fernando Medina, lhe perguntou se se queria demitir, a resposta foi negativa "porque não tinha feito nada de errado", alegando que a única explicação que encontra para a decisão são "motivos políticos". "Uma demissão é também um reconhecimento de que foi feito algo de errado e eu nada fiz de errado", reiterou, admitindo que ficou chocada com a conferência de imprensa.
"Ter dois ministros a demitir-me com justa causa está a arruinar a minha reputação, perante a minha família, os meus filhos e amigos. Tenho de o fazer", sublinhou a presidente executiva da TAP. "6 de março foi o pior dia da minha vida, por isso, sim, vou tentar reparar a minha honra, com a reputação global que tenho nesta indústria".
Christine Ourmières-Widener é a terceira personalidade, de uma lista de cerca de 60, a ser ouvida pela comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, constituída por iniciativa do Bloco de Esquerda.
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A ainda presidente executiva da TAP contestou o despedimento e acusou o Governo de ter tido "pressa política" para a demitir, segundo a contestação da defesa, citada pela TVI/CNN.
O Governo anunciou, em 6 de março, que a Inspeção-Geral de Finanças (IGF) tinha concluído que o acordo celebrado para a saída antecipada de Alexandra Reis da TAP era nulo e que ia pedir a restituição dos valores.
Os ministros das Finanças e das Infraestruturas anunciaram também a exoneração com justa causa da presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, e do presidente do Conselho de Administração, Manuel Beja.
A verificação pela IGF da legalidade da indemnização paga a Alexandra Reis foi determinada em 27 de dezembro do ano passado pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, e pelo então ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos.
Em dezembro, Alexandra Reis tomou posse como secretária de Estado do Tesouro, tendo então estalado a polémica sobre a indemnização que recebeu quando saiu da companhia aérea detida pelo Estado, levando a uma remodelação no Governo, incluindo a saída de Pedro Nuno Santos, que foi substituído por João Galamba.
Alexandra Reis é ouvida na comissão de inquérito na quarta-feira.