<p>Há dois meses que as suas mãos não param. As encomendas começaram a chegar, mas as cinco mulheres que trabalham no ateliê de paramentaria do Centro Social de Sacavém, em Loures, não souberam de imediato a importância da tarefa que tinham em mãos.</p>
Corpo do artigo
Foi o padre Alberto Gomes, responsável pelas paróquias de Sacavém e de Moscavide, que decidiu propor à Comissão Organizadora da visita do Papa a Portugal que os paramentos a serem utilizados na missa a celebrar por Bento XVI no Terreiro do Paço, na tarde de 11 de Maio, fossem feitos no ateliê que decidiu criar, há cinco anos, no centro social de Sacavém. A proposta foi aceite e não tardou a aumentar: a diocese do Porto também se juntou à encomenda e engrossou a lista de pedidos para a missa que terá lugar, no dia 14, na Avenida dos Aliados.
Por estes dias, a azáfama é grande nas três salas que compõem o ateliê. Muito do trabalho já está feito - as estolas com duas faces que vão ser usadas na missa do Porto, por exemplo, já estão a ser utilizadas pelos padres desde a 5ª feira Santa - mas as cinco mulheres que ali trabalham passam cada peça a pente fino. "Um dos nossos lemas é que nada volte para trás e que o cliente fique sempre satisfeito. Queremos que tudo fique perfeito", diz Filomena Costa, 40 anos, que desde os 15 trabalha no corte de confecção, mas só há cinco descobriu o que eram os paramentos. Estava desempregada e foi desafiada para uma entrevista de emprego. Fez um curso de um ano e meio no centro social, onde aprendeu as técnicas dos bordados e das bainhas abertas, e desde então é ali que ganha a vida. Admite que o trabalho não é fácil. Os tecidos são difíceis e os pormenores exigem muito rigor, mas é com orgulho que fala da sua "arte", enquanto mostra, num quadro pendurado na parede, as fotografias de vários padres e bispos usando peças que saíram das mãos da sua "equipa".
Na sala ao lado, Lubélia Amaro, 50 anos, não larga a mão do ferro a vapor. Está a fazer os acabamentos das mitras, que vão ser usadas na cabeça dos cerca de 40 bispos que vão participar nas cerimónias. É um trabalho que exige muito "esforço e dedicação", ainda para mais quando estão a trabalhar para o chefe máximo da Igreja Católica, mas diz que é uma honra estar "nos bastidores" desta cerimónia. Tal como as colegas, quer estar no Terreiro do Paço, na missa, para apreciar todo o trabalho.
O padre Alberto Gomes não sabe ao certo quantas peças foram elaboradas no ateliê para estas cerimónias, mas calcula que serão entre duas a três mil, entre alvas (as vestes interiores brancas), casulas (as que são usadas por cima e que variam consoante a função), as estolas (faixas que se penduram sobre os ombros), os amitos e mitras (que os bispos usam na cabeça). Só para a missa de Lisboa, há mais de 500 padres, bispos e diáconos inscritos. As vestes serão cor de pérola, com apontamentos em fio de seda dourado - cor ditada pelo facto de estarmos ainda em tempo pascal. No Porto, a cor dominante será o vermelho, por se celebrar nesse dia a festa do apóstolo São Matias.