O presidente do PS acusou, este sábado, o presidente da República de não ter feito o que lhe era “politicamente devido” ao ter dissolvido o Parlamento. Para Carlos César, não havia motivos. O primeiro-ministro, António Costa, “fez o que lhe era constitucionalmente devido”. E desfere ataques à Direita.
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“O país devia ter sido poupado a esta interrupção gerada pela decisão do presidente da República de convocação de eleições antecipadas, porque é hoje amplamente reconhecido que, nas circunstâncias então difundidas, o primeiro-ministro fez o que lhe era institucionalmente requerido. Mas o presidente da República, em resposta, não fez o que politicamente era devido”, considerou Carlos César, ao abrir, este sábado, o segundo dia de trabalhos do congresso socialista.
Contudo, o presidente do PS, que foi reeleito com 90,36% dos votos, avisa que o partido “nunca” foi “prisioneiro das circunstâncias”. “O que lá vai, lá vai”, considerou, fechando o ataque a Marcelo Rebelo de Sousa para atirar em outra direção, na do líder social-democrata, Luís Montenegro, que acusa de personalizar “a direita mais embusteira, mais radical e mais desvalorizadora do Estado e dos direitos dos cidadãos que já tivemos em Portugal desde o 25 de Abril”.
“Os portugueses não escolherão no próximo dia 10 de março aqueles que só se fazem notar à custa dos 'engenheiros do caos', ou pela grosseria da sua linguagem ou pelos enredos que encenam no teatro da política”, defendeu Carlos César, numa alusão ao Chega.
Para o presidente do PS, essa “aptidões” de André Ventura, cujo nome nunca mencionou, são, porém, “não raras vezes suplantadas” por Luís Montenegro. “Como, aliás, temos visto nestes últimos dias”, apontou.
“Os portugueses querem políticos que falem sobre o que interessa realmente aos portugueses, e que não só digam o que pensam como deem garantias de fazerem o que dizem. Pedro Nuno Santos é um político assim. Frontal e sem receios de mostrar quem é. É disso que o País precisa”, considerou Carlos César.
O presidente do PS reconheceu, contudo, que o partido precisa de fazer mudanças para voltar a merecer a confiança dos portugueses. “São necessárias mais renovação nas políticas e nos políticos e mais energia ao serviço do País, porque há criatividade a menos e cansaço a mais que comprometem a confiança dos cidadãos na nossa democracia e nos seus destinos”, considerou, admitindo que “há reclamações dos portugueses que importa atender”.
Segundo Carlos César, há ainda “a necessidade de reconstruir a estabilidade política”. E isso só poderá ser conseguido pelo PS, como comprova a situação também de crise que se vive nos Açores, onde foi rompido o acordo parlamentar entre PSD, IL e Chega que segurava o Governo social-democrata de José Manuel Bolieiro e que ditou a marcação de eleições para 4 de fevereiro.
“Tivemos no governo regional, à semelhança do que teríamos no País se a direita ganhasse as próximas eleições nacionais, um Governo de um jogo 'sem rei nem roque', onde cada partido, da direita à extrema direita, disputa o seu bocado de poder e pouco mais quer saber do que como lucrar com ele”, acusou.
Acresce que o PS, nos últimos oito anos em que esteve à frente dos destinos do país, mostrou que, em “contextos marcados por excecionalidades e contrariedades induzidas pelo exterior”, consegue “resultados excecionais”.
"Há muito para mudar"
Carlos César admite, contudo, que ainda há “muito para fazer” e “muito para mudar”. “Não se trata, somente, de melhorar a capacidade de resposta dos serviços e da administração pública, das instituições e serviços de justiça, de melhorar a participação com mais descentralização e mais concertação social, de fortalecer as autonomias regionais, da prevenção e do escrutínio no combate à corrupção. Não se trata, apenas, de aprofundar as políticas de igualdade do género, de melhorar o desempenho do sistema educativo ou do Serviço Nacional de Saúde, do reforço dos rendimentos ou do Estado Social ou da sustentabilidade das contas públicas”, exemplificou o presidente do PS.
“São, por exemplo, os casos que afetam cada vez mais a nossa segurança coletiva. Temos de tomar consciência que o preço de sermos parte de uma Europa Política Democrática e da Europa Social que queremos aprofundar e do nosso modo de vida em liberdade é, também, o do reforço das capacidades de dissuasão das nossas sociedades face às ameaças em contrário de outras forças ou países”, avisou o presidente dos socialistas.