A VI Convenção do Chega começa esta sexta-feira em Viana do Castelo sem que se conheçam os candidatos às legislativas, mas nos bastidores não se fala noutra coisa. Ventura só revela os nomes depois do congresso e isso garante-lhe a paz interna na reunião magna.
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O presidente do Chega prometeu “atuais e antigos” deputados do PSD nas listas, mas só diz quem são os candidatos depois da VI Convenção que decorre entre sexta-feira e domingo no Centro Cultural de Viana do Castelo.
O argumento de André Ventura é que a Direção Nacional só será eleita no domingo e, por isso, só depois da eleição é que está “legitimado para convidar os candidatos” a integrarem as listas. Mas a decisão garante-lhe também a paz interna em Viana do Castelo, visto que adia para depois da convenção qualquer crítica de algum militante que fique de fora.
Sem listas de deputados conhecidas – e, consequentemente, sem divisões internas que afrontem a unanimidade –, o Chega parte para o congresso a atacar o PSD e a prometer recrutar no principal rival à Direita. Galvanizado pelas sondagens que o dão como terceira força política nacional e decisivo para um eventual Governo de maioria à Direita, o Chega deverá ter um congresso virado “para fora”, como a V Convenção, em Santarém, poupando-se às guerras internas que têm marcado o partido desde a II Convenção, de Évora.
Porém, há novas guerras internas em perspetiva e tudo depende dos nomes que André Ventura vai decidir excluir na elaboração das listas. Há atuais deputados que deverão continuar, como Pedro Pinto ou Rita Matias, mas há outros em dúvida, como Bruno Nunes ou Gabriel Mithá Ribeiro, tido como o ideólogo do partido mas que teve uma zanga pública com Ventura.
Ana Rita Cavaco e Rui Gomes da Silva de fora
A circunstância de as listas poderem ter nomes que estão ou estiveram ligados ao PSD já é falada há um par de meses nos bastidores do partido. Nomes como o de Ana Rita Cavaco ou Rui Gomes da Silva têm sido falados devido à amizade com André Ventura, mas os próprios negam-no, ao JN.
“Não recebi qualquer convite e não vou integrar” a lista, assegura Ana Rita Cavaco, ex-bastonária da Ordem dos Enfermeiros, ao JN.
Também Rui Gomes da Silva, ex-ministro de Santana Lopes, crítico da direção de Luís Montenegro e padrinho de casamento de André Ventura, nega que seja um dos ex-deputados nas listas do Chega: “Não estava a falar de mim, de certeza. O que não me impede de dizer que percebo o trabalho que André Ventura está a fazer e que a opção totalmente errada do PSD de estabelecer linhas vermelhas com o Chega ficará, para o bem e para o mal, ligada a Luís Montenegro”.
Em sentido inverso, o advogado António Pinto Pereira, ex-PSD e agora no Chega, está disponível: “Não recebi qualquer convite, mas esta não é a altura para isso. Tenho um prazer enorme em trabalhar no programa eleitoral na parte da Justiça e sou apenas uma gota num grande oceano para mudar Portugal”.
Os militantes do Chega vão reeleger os órgãos e alterar os estatutos do partido, depois de três congressos anulados pelo Tribunal Constitucional. O primeiro foi o de Évora, por erros na convocatória. O mesmo aconteceu no último, de Santarém, em que a eleição de delegados afastou a oposição interna. Pelo meio, foram chumbados os estatutos aprovados no congresso de Viseu, que criavam a Comissão de Ética – a “polícia” das redes sociais que suspendeu quase 100 militantes – e concentravam os poderes no líder.