A tendência do ano passado mantém-se. Devido à pandemia, muitos portugueses preferem passar dias de férias longe das praias da costa e de grandes centros populacionais. Há quem vá pela primeira vez, enquanto outros são repetentes. Apesar de muitos preferirem o alojamento local, a dinâmica gerada beneficia a economia das cidades em volta.
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Rita Serra e Tiago Muchacho tinham pensado em "ir passar uns dias de férias à Suíça e a outros países". Mas este verão, que até se adivinhava menos ameaçado pelo vírus da covid-19, deixou de se prometer tranquilo e aconselhou o casal de namorados de Cascais a ficar por cá. O do ano passado encaminhou-os para o Gerês. "Foi a forma que encontrámos para fugir às enchentes", contam.
Calhou que a tia de Rita, Graça Sousa, que vive em Lisboa há 53 anos, ainda conserva casa em Alvações do Tanha, Peso da Régua, para terem a necessidade de alojamento resolvida. Sobrou mais dinheiro para passearem pelos concelhos transmontanos e durienses em busca de paisagens de cortar a respiração, monumentos cheios de história e gastronomia de comer e chorar por mais.
O JN Urbano apanhou o trio a fazer os quase 700 degraus do monumental escadório do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego. Não pareciam cansados, embora a escalada se preste a isso, porque foram subindo devagar, respirando o fresco do arvoredo envolvente, embalados pelo canto da passarada.
Os relatos sobre a nova moda de descobrir o interior também são como música para os ouvidos dos autarcas. Todos os anos se desunham para captar uma fatia do turismo nacional e a pandemia, neste capítulo, tem-lhes dado motivos para sorrir. É que, mesmo que muitos visitantes optem por unidades mais rurais, o impacto na economia das cidades em volta sente-se com intensidade, por exemplo, em termos de comércio local e restauração.
Douro como destino seguro
O presidente da Câmara de Lamego, Ângelo Moura, diz que "tal como o ano passado muitos portugueses escolhem o concelho e o Douro como principal destino de férias". Por ser "seguro para a atividade turística" e por ter "uma oferta variada de produtos tradicionais, alojamento e restauração, entre outros motivos de interesse". Não admira que várias unidades de alojamento já tenham registado, este ano e por diversas vezes, "ocupação de 100%".
Antes de irem para Lamego, Rita, Tiago e Graça passaram por Carrazeda de Ansiães para ver a vila amuralhada. Se tivessem pernoitado lá duas noites, teriam recebido "20% dos encargos do alojamento da segunda noite" através de um "voucher" que pode ser utilizado em qualquer restaurante do concelho. É uma piscadela de olho do Município aos visitantes. "Se ficarem três noites, têm "um desconto de 30% direto no alojamento respeitante à terceira", explica o autarca João Gonçalves.
Esta campanha é um sinal dos tempos. Os municípios do Interior puxam pelos galões do que melhor têm para oferecer, de modo a captar os turistas que fogem dos destinos tradicionais. O presidente da Câmara de Valpaços, Amílcar Almeida, nota "maior afluência", nomeadamente à "Ecovia do Rabaçal e à Via Ferrata". São procuradas por "grupos de vários pontos do país", amantes da natureza, que acabam por "passar o fim de semana", provando a gastronomia e vinhos do concelho.
Ocupação em alta visível
A praia fluvial do Rabaçal, em Valpaços, promete grande procura, este ano, mas as duas do Azibo, em Macedo de Cavaleiros, continuarão a ser os polos de maior atração de quem foge das praias de mar. O presidente do Município, Benjamim Rodrigues, está convicto de que o concelho poderá atingir, durante o verão, "os 350 mil visitantes", número registado na época balnear de 2020, mesmo que volte a haver limitações. A praia da Fraga da Pegada tem uma lotação de 1700 pessoas e a da Ribeira de 1600.
O presidente da Autarquia de Bragança, Hernâni Dias, nota que "as unidades de alojamento têm já taxas elevadas de ocupação, para os meses de julho e agosto", sendo que "a maior afluência é no turismo rural". A Câmara tem promovido intensamente o concelho como "território autêntico, natural e seguro", com o objetivo de atrair turistas, acenando-lhe com "um rico património cultural, natural e com a gastronomia muito apreciada".
Em Chaves, o autarca, Nuno Vaz, revela que à semelhança do ano transato, e de acordo com os registos do posto de turismo, "cerca de 86% dos que visitam o concelho são nacionais" e "51% fazem-no pela primeira vez". Já em relação à região do Alto Tâmega - concelhos de Chaves, Montalegre, Boticas, Valpaços, Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar - a procura de turistas nacionais é de "mais de 70%".
O vereador da Câmara de Viseu, Fernando Marques, confirma que, apesar de a pandemia ter "travado o crescimento turístico verificado até 2019", durante os meses de verão de 2020, "a afluência ao concelho aumentou consideravelmente". Por exemplo, "a Airbnb indica que nos meses de julho e agosto do ano passado, Viseu tornou-se o destino com maior crescimento em Portugal naquela plataforma. Estamos a falar de um aumento de 248%".
Na Covilhã, o edil, Vítor Pereira, revela que o concelho tem vindo a "despertar a atenção dos turistas nacionais e internacionais", mas, devido à pandemia, foram sobretudo portugueses a procurar as "particularidades históricas, culturais e naturais" da região, "cercada por montanhas, rios e ribeiras", com "grande procura ao nível do alojamento local e rural".
Verdadeiramente na moda está a Estrada Nacional 2 (EN2), cuja rota de mais de 700 quilómetros, entre Chaves e Faro, é cada vez mais procurada por quem procura experiências longe dos grandes centros urbanos. A cidades e vilas dos 35 concelhos que a rota atravessa sentem que foi uma aposta que "pegou de estaca". O autarca de Lamego sublinha que "é pela travessia da EN2 que "muitos portugueses chegam a Lamego pela primeira vez". De passagem, conhecem o Alto Douro Vinhateiro que é Património Mundial da UNESCO.