No Porto, estende-se as linhas do metro. Em Lisboa, limita-se o acesso de carros ao centro. Em Braga, cria-se um pulmão verde. As três tentam reduzir consumo energético. As grandes cidades do país estão a mexer-se para dar resposta às alterações climáticas. Querem ser neutras em carbono até 2050
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Faltava todas as sextas-feiras às aulas para envergar, sozinha, cartazes em frente ao Parlamento sueco. Foi há um ano e poucos imaginavam que a miúda de 16 anos se tornaria o rosto da luta. No mês passado, Greta Thunberg foi de barco alimentado a energia solar até Nova Iorque, "gritar" aos líderes mundiais que há uma crise climática. Mas se os governos parecem adormecidos, as cidades estão bem despertas. Este mês, em Copenhaga, autarcas de 94 cidades do Mundo declararam emergência climática e assinaram um Pacto Verde Global. Lisboa foi uma delas. Prometeram reduzir as emissões poluentes na próxima década. Mas há mais cidades portuguesas a preparar o futuro.
A capital, que há quatro anos proibia os carros antigos e poluentes de circularem no centro, quer reduzir as deslocações urbanas em automóvel para 34% em 2030 - atualmente são 47%. Copenhaga é mais ambiciosa: até 2025 quer 25% de deslocações em carro próprio. Mas podem as cidades fazer o trabalho dos governos? A Câmara de Lisboa diz que sim, ao prometer neutralidade carbónica em 2050. Uma medida necessária numa corrida contra o tempo. Para limitar o aquecimento do planeta a 1,5 graus é preciso que a partir de 2020 as emissões de todo o Mundo comecem a baixar e que, em 20 anos, sejam metade das atuais.
Só carros de emissões zero
O vereador do Ambiente de Lisboa, José Sá Fernandes, resume: "Os objetivos são todos e mais alguns. Gastar menos água, menos energia, aumentar os espaços verdes, plantar árvores". Hoje, a capital está a usar água não potável para lavar ruas e regar jardins, para poupar água potável. Não é ao acaso: será Capital Verde Europeia no próximo ano. Só vai apresentar todas as medidas no final de novembro. Uma delas já fez saber: a Baixa Pombalina será reservada a veículos de emissões zero. As restrições vão estender-se, com o tempo, ao resto da cidade. Para isso, quer melhorar os transportes públicos e expandir a rede de ciclovias. Até porque, desde que os carros com matrícula anterior a 2000 deixaram de poder circular entre a Avenida da Liberdade e a Baixa, a poluição do ar não desceu para níveis aceitáveis.
Quando o rosto da luta climática, Greta Thunberg, reclamou sonhos e uma infância roubada despertou outras "Gretas" em Portugal, que saíram à rua a 27 de setembro a pedir medidas durante a Greve Climática Global. O Porto foi uma das cidades que se encheram de cartazes e a Câmara não olhou para o lado. Quer reduzir as emissões de gases poluentes para metade até 2030 e promete, como Lisboa, ser neutra em carbono em 2050. Os transportes públicos são prioridade. Desde 2002, a Metro do Porto diz que retirou mais de 12 mil carros da cidade. Este ano, surge o passe metropolitano único e transportes grátis até aos 15 anos. E em 2020 começa a obra da nova Linha Rosa, da Casa da Música a S. Bento, e prolongar a Linha Amarela até Vila D"Este, em Gaia. São mais seis quilómetros. Nos autocarros, a STCP está a renovar 81% dos veículos, para movidos a gás natural e eletricidade. Os primeiros 50 já circulam.
Painéis solares no Porto
No próximo ano, o Porto vai instalar painéis solares em 35 edifícios públicos, a maioria escolas. Até lá, toda a iluminação pública será LED. E também se prepara para a subida do mar. Pelo Mundo, prevê-se que 800 milhões de pessoas a viver em 570 cidades vão estar vulneráveis a cheias. A Invicta tem 52 medidas numa Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas. Uma é condicionar a ocupação de zonas costeiras e incentivar a deslocalização de estruturas em zonas de risco.
Curiosamente, a Invicta subscreveu este ano uma carta aberta ao Conselho Europeu e estados-membros para instar os governos a comprometerem-se com uma estratégia climática de longo prazo. O novo Governo dá sinais disso: ao Ministério do Ambiente juntou-se a Ação Climática. E as cidades já estão prontas. Em Braga, investiu-se quase 200 mil euros num "pulmão verde" no centro. "O Monte Picoto, com 24 hectares, quer ser o maior parque urbano de floresta autóctone", diz Altino Bessa, vereador do Ambiente. Trocaram-se os eucaliptos e as acácias por carvalhos, castanheiros, sobreiros. "Para ajudar a captação de CO2 e baixar a temperatura na cidade".
Em 2018, mais de 11 milhões usaram transportes públicos em Braga. As escolas que gastam menos energia recebem prémios e está-se a renaturalizar o rio Este. "Plantando vegetação, para baixar a temperatura da água. Já se avistam lontras e enguias". Agora, Braga vai investir dois milhões em ciclovias, mais 22 quilómetros. Em Portugal, as cidades não estão à espera