Emprego Interior MAIS dá até 4827 euros a quem sai do litoral. Mais de 500 candidatos em três meses e muitos são jovens com contratos sem termo.
Corpo do artigo
Em apenas três meses, o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) já recebeu 144 candidaturas ao programa que paga a quem for viver e trabalhar para o interior do país. As candidaturas recebidas nos primeiros 93 dias desde que o programa foi lançado, a 20 de agosto, abrangem 144 candidatos e 357 elementos do agregado familiar, num total de 501 pessoas, o que dá uma média de cinco por dia.
O Emprego Interior MAIS (Mobilidade Apoiada para um Interior Sustentável) é um mecanismo de correção das assimetrias regionais e destina-se a pessoas inscritas no Instituto de Emprego e Formação Profissional. Cada candidato pode receber até 2632 euros de apoio, mais 877 euros de comparticipação nos custos de transporte de bens e até 1316 euros de majoração para os elementos do agregado familiar que também se mudem. Na prática, um casal com filhos pode conseguir uma verba direta de 4827 euros se mudar a vida profissional do litoral para o interior.
40% de jovens
Os dados cedidos ao JN pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social demonstram que "cerca de 40% dos candidatos têm menos de 34 anos" e que dois terços das candidaturas "são de pessoas que encontraram trabalho por conta de outrem no interior". Há ainda 26% que criaram o próprio emprego e 7% criaram mesmo uma empresa. Mais de 40% dos trabalhadores por conta de outrem assinaram contrato sem termo.
O compromisso de tornar o território mais coeso e inclusivo através de medidas que apoiam a fixação de residentes no interior consta do programa do Governo e traduziu-se, inicialmente, pelo apoio ao regresso de emigrantes a Portugal. Este ano, o "Regressar" já aprovou 160 candidaturas desde fevereiro, correspondentes a um total de 374 emigrantes (160 candidatos mais 214 elementos do agregado familiar).
Reportagem
É bom conseguir potenciar aqui a investigação
Há um ano, Filipa Figueiredo vivia e trabalhava em Guimarães, hoje é investigadora do Cecolab, um laboratório colaborativo para a economia circular, em Oliveira do Hospital. Aos 32 anos, a pós-graduada em Engenharia do Ambiente, tinha projetado a vida pessoal e profissional para o litoral norte, mas a oportunidade de emprego certa, aliada à chance para regressar às origens, fê-la aceitar o desafio com a ajuda do programa Emprego Interior MAIS.
É que Filipa é uma dos milhares de jovens que todos os anos saem do interior para estudar no litoral. Oriunda de Oliveira do Hospital, cedo saiu para se formar em Coimbra, onde também começou a vida profissional. De Coimbra foi para Guimarães e agora regressa a casa para ficar. "O objetivo é mesmo ficar em Oliveira do Hospital. É bom conseguir potenciar a investigação do interior", assume.
Investigação científica
Desde que saiu de Coimbra que Filipa não trabalhava em investigação científica. No Cecolab também aproveitou para voltar a fazer o que gosta na área em que se formou: "Vim para desempenhar funções de investigação, na área ligada com o ciclo de vida e o ecodesign de produtos e serviços. O que se pretende é uma nova abordagem aos processos produtivos, dar uma nova vida aos resíduos".
Ou seja, Filipa está a ajudar o país a passar de uma economia que é geradora de resíduos para outra em que se minimiza ao máximo a sua produção e eles sejam vistos como subprodutos que entram novamente no meio produtivo. Para isso, assinou em fevereiro um contrato de trabalho a termo incerto com a duração previsível de 12 meses, mas o horizonte temporal do trabalho que está a desenvolver é de cinco anos. O IEFP apoiou com 3159 euros.
O desejo de Filipa sempre foi regressar à terra onde nasceu, mas o objetivo só estava planeado para um futuro mais longínquo. O apoio do Emprego Interior MAIS e o aparecimento da oferta de emprego certa foram os incentivos que aceleraram a decisão: "Foi um incentivo à mobilidade, porque no fundo permitiu-me o retorno a uma atividade de trabalho ligada à investigação e o regresso às minhas origens".
Saiba mais
913 mil euros
Os programas Emprego Interior Mais e Regressar já aprovaram um total de apoios de 913 mil euros, divididos entre 206 mil no primeiro e 707 mil no segundo.
Zonas de interior
A classificação das zonas de interior está na portaria 208/2017. São 165 concelhos, mais 75 freguesias de interior em concelhos do litoral.
Data do contrato
Os candidatos devem mudar a residência para o interior nos 90 dias consecutivos anteriores ou posteriores ao início do contrato de trabalho. São elegíveis contratos desde 1 de janeiro de 2020 até 31 de dezembro de 2021.