Empresários e gestores discutem desafios para os líderes no contexto da pandemia e da guerra da Ucrânia.
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O presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, António Saraiva, afirmou, nesta quarta-feira, que aquela organização "vai continuar a insistir" na manutenção do regime simplificado do "lay-off", apesar de o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, ter descartado esta opção no conjunto de medidas de apoio face à nova situação de crise.
"Estamos a pedir ajuda, não estamos a pedir subsídios", declarou, em resposta ao diretor-geral da Continental Advanced Antenna Portugal, Miguel Pinto, que exortou as associações empresariais a reclamar aquele regime, que permite às empresas suspender total ou parcialmente a sua atividade.
Ambos intervinham no painel final - "Qual o papel do associativismo na transformação social para o futuro?" - da conferência "Pensar no futuro: o desafio das lideranças", promovida pela Porto Business School (PBS), a escola de negócios da Universidade do Porto, e pela CIP.
"Primeiro desafio é a capacidade de adaptação"
António Saraiva destacou, na abertura da iniciativa, que "o futuro é desafiante" face às sucessivas "disrupções, como as dívidas soberanas, a pandemia de covid, a guerra na Ucrânia e as alterações climáticas".
É um tempo que a diretora de programas da PBS, Margarida Pedroso, diz colocar desafios aos líderes, como o de "inspirar os outros" e o de valorizar as equipas, incluindo na promoção da conciliação entre vida profissional e pessoal, e das opiniões dos trabalhadores. "Três em cada dez consideram que não são ouvidos pelas chefias", notou, ao apresentar o primeiro painel, com o título "Que competências devem ter os novos líderes e qual o seu papel perante os novos desafios?".
Para Ana Salomé Martins, administradora do grupo Symington, o primeiro desafio é "a incerteza absoluta" com que as empresas lidam, com a mudança de um "paradigma de abundância dos últimos anos para um paradigma de escassez, até de oportunidades".
"O primeiro desafio é a capacidade de adaptação - dos próprios líderes e da sua organização - às alterações da conjuntura, sem perder de vista a orientação estratégica da empresa a médio e longo prazo", contribuiu o presidente da Corticeira Amorim, António Amorim, para quem "a incerteza faz parte do risco empresarial".
O presidente do Grupo Bel e do Global Media Group (proprietário do "Jornal de Notícias"), Marco Galinha, começou por destacar a situação na Ucrânia, considerando que "os líderes mundiais são responsáveis pelos dias que vivemos", e salientou a "responsabilidade dos media" na formação da opinião.
Em resposta a Ana Salomé Martins, que considera que a inclusão da diversidade e de género é um tema ainda polémico, e a António Amorim, que defendeu a multiculturalidade também nas lideranças e a discriminação positiva das mulheres para gerar o equilíbrio de género, Marco Galinha apontou o exemplo das escolhas para o JN e o DN, ambos dirigidos por mulheres.
"Talento não tem idade; tem idades"
No segundo painel, intitulado "O que procuram os novos profissionais nas empresas?", a investigadora e docente universitária Maria Antónia Cadilhe salientou a importância da valorização das várias gerações de trabalhadores ("O talento não tem idade; tem idades - e géneros.") nas empresas e a promoção do bem-estar para "ser feliz no trabalho para ser ainda mais fora dele".
Observando que a pandemia - com o isolamento e a confrontação com o tema da doença e da morte - colocou questões como o próprio valor da vida "e o que as pessoas querem dela", Cristina Azevedo, diretora da empresa de recursos humanos LHH|DBM, chamou a atenção para as diferentes visões das várias gerações.
Questionada, desde a plateia, sobre o facto de o mercado de trabalho preterir desempregados com mais de 50 anos nas oportunidades de regresso à vida ativa ("Como é possível dispensar tanto capital humano?!", questionou uma participante), respondeu crer que a realidade está a mudar.
Segundo estatísticas da sua empresa, em 2021, os desempregados com mais de 50 anos esperaram em média 7,1 meses para regressar ao trabalho, contra 5,2 meses nas pessoas com 40 anos. Foi aplaudida quando contou o caso de um trabalhador nessa franja que foi integrado numa equipa composta exclusivamente por "millennials" (tornados adultos no ano 2000), cuja produtividade aumentou graças à sua experiência e conhecimentos do setor.
O que valoriza um trabalhador numa empresa? Resposta do diretor-geral da Randstad Portugal, José Miguel Leonardo: primeiro, o salário e os benefícios; em segundo lugar, a conciliação da vida pessoal com a vida profissional; em terceiro, a estabilidade profissional; em quarto, o ambiente de trabalho; e, em quinto, a progressão na carreira.
"Cidadania participativa ativa"
No painel sobre associativismo, António Saraiva exortou à "cidadania participativa ativa" na vida das associações e do país, enquanto Jorge Portugal, presidente da COTEC Portugal - Associação Empresarial para a Inovação, valorizou o papel desta na promoção da inovação como fator de aumento da produtividade e da competitividade e defendeu o trabalho das pequenas empresas em rede de cooperação, pois não possuem escala para crescer.
"Estamos em várias associações para sermos mais competitivos", corroborou o diretor-geral da Continental Advanced Antenna Portugal, Miguel Pinto, explicando que foi a melhor via para acesso a informação sobre inovação tecnológica e formação de quadros e que "as associações são importantes para levar ao poder político as preocupações" dos empresários.