Mais de cinco milhões de portugueses têm seguro ou subsistema de saúde (como ADSE) e procuram cada vez mais os hospitais privados. No ano passado, estas unidades fizeram mais 25% de cirurgias face ao ano anterior, apesar de haver cada vez menos solicitações do Serviço Nacional de Saúde.
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O aumento da atividade cresceu em todas as dimensões. Em 2021, os hospitais privados fizeram 22 mil consultas por dia, num total de 8,2 milhões; 2660 urgências por dia (995 mil) e 564 cirurgias por dia (223 mil). Uma subida de 30% nas consultas, 18% nas urgências e 25% nas cirurgias face a 2020, um ano marcado por uma redução da atividade devido à covid-19.
Os números apresentados, esta terça-feira, por Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), mostram um crescimento também face ao período pré-pandémia. Comparativamente a 2019, os hospitais privados realizaram, em 2021, mais 14% de consultas e 10% de cirurgias. As urgências ficaram 11% abaixo dos números de 2019, depois de uma queda de 34% em 2020.
No que respeita às cirurgias, o líder da APHP salientou a redução de 10% das operações realizadas para o Serviço Nacional de Saúde, no âmbito do programa de recuperação de listas de espera (SIGIC). Das 222 573 operações feitas em 2021, apenas 13 883 foram SIGIC (6,2%).
"Surpreendeu-nos que, num ano que devia ser de recuperação da atividade, termos menos SIGIC do que no ano anterior", afirmou Óscar Gaspar. O responsável entende que, para tal, terá contribuído a decisão de internalização de cirurgias no SNS, com o pagamento de horas extraordinárias aos médicos, e de não recorrer aos privados.
"A Norte, por exemplo, não tem havido referenciação para os hospitais privados", realçou, concluindo que "a atividade SIGIC é cada vez mais marginal" no setor.
O crescimento da atividade refletiu-se também nos exames de diagnóstico e terapêutica. Em 2021, fizeram-se 1,3 milhões de Raio X, 1,5 milhões de ecografias, 548 mil TAC e 361 mil ressonâncias magnéticas.
No mesmo ano, realizaram-se nos hospitais privados 12 218 partos (mais 11% do que em 2019) e registaram-se quase 612 mil internamentos (diárias). Mais de 145 mil utentes foram atendidos em Medicina Dentária e 16 mil doentes fizeram tratamentos oncológicos.
"Este crescimento a dois dígitos tem a ver com a saída da pandemia, mas também com o facto de mais de cinco milhões de portugueses terem seguro de saúde ou subsistema de saúde e usarem os hospitais privados como primeira opção para resolverem os seus problemas de saúde", sublinhou Óscar Gaspar.
Apesar da pandemia, em 2021, os hospitais privados investiram mais de 150 milhões de euros, valor que inclui a construção de novas unidades e a aquisição de equipamentos. "É um investimento significativo porque foi no ano seguinte a um ano terrivelmente impactante em todas as unidades de saúde", realçou.
Em 2020, o investimento foi de 214 milhões de euros.
Aumentos de 200% e 300% em energia
Questionado sobre o impacto da crise energética na despesa dos hospitais privados, o presidente da APHP admitiu que "a pressão é muito grande". E revelou haver unidades a reportar aumentos de 200% e 300% de custos com gás natural de 2021 para 2022, para manterem o funcionamento e a climatização.
"Os aumentos salariais, do salário mínimo e de outros salários, que defendemos e queremos continuar a aplicar, também têm um impacto muito significativo nos orçamentos", acrescentou Óscar Gaspar.
A pressão dos custos tem levado algumas unidades a renegociar preços com as seguradoras, algo que é feito diretamente e não passa pela APHP, explicou.
A este propósito e sobre a relação com a ADSE, Óscar Gaspar salientou que atualmente aquele subsistema de saúde dos funcionários públicos representa menos de 15% da atividade dos hospitais privados. "Cada vez temos menos atividade ligada ao Estado", assegurou.
Falta de recursos humanos é global
Óscar Gaspar aproveitou a conferência de Imprensa para frisar a questão da falta de recursos humanos na Saúde. "Não é um problema do SNS, é um problema de todo o sistema de saúde", que também constitui uma "grande preocupação no centro da Europa".
Não faltam apenas médicos, mas também enfermeiros e outros profissionais, referiu, apelando à necessidade de se adaptar a formação de recursos às necessidades do país.
Mais de 40 mil pessoas trabalham nos hospitais privados, dos quais 16 595 médicos, 9056 enfermeiros, 6749 auxiliares, 3447 técnicos e 4663 administrativos.
Os 129 hospitais privados representam um terço da capacidade hospitalar do país. No total, dispõem de 210 camas de cuidados intermédios e intensivos; 182 blocos cirúrgicos, 3174 consultórios e 222 cadeiras de Medicina Dentária.