Estava a mais de dois mil quilómetros de Portugal quando a revolução estalou. "Foi um momento único, de grande esperança no futuro", conta José Marques dos Santos, atual reitor da Universidade do Porto, que vivia em Manchester (Reino Unido) por alturas do 25 de Abril.
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Emigrara em setembro de 1973, com a mulher e um filho de seis meses, para fazer mestrado e doutoramento no Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade de Manchester. Estava longe, as comunicações eram de "outro tempo", mas as notícias correram depressa.
Foi pela rádio portuguesa, que tinha o hábito de escutar, que soube que o exército estava nas ruas. No dia 25 à tarde, Marques dos Santos (então com 27 anos) e os colegas portugueses que frequentavam a mesma universidade comentavam as notícias, partilhavam preocupações e emoções. "Vivemos aquele momento com muita intensidade e, ainda hoje, quando nos encontramos, recordamos aqueles dias", conta.
Nos dias que se seguiram, as televisões inglesas - ITV e BBC - deram folgado destaque à revolução portuguesa. "Passavam muitas imagens e os jornais ingleses também traziam muita informação". Com o passar do tempo, a revolução nos media britânicos foi esmorecendo, mas Marques dos Santos manteve-se atento às notícias do "Expresso", que recebia semanalmente em Manchester. "Acompanhava tudo, sempre na esperança de que não voltasse para trás".
Além da "evolução" e da "liberdade", o 25 de Abril permitiu a Marques dos Santos escapar ao Ultramar. Tinha-lhe sido concedido um adiamento para poder doutorar-se, mas a revolução livrou-o da guerra.
Marques dos Santos só regressou ao Porto quase um ano depois, no verão de 1975, e confessa que voltou para Inglaterra "preocupado". Em janeiro de 1977, regressou de vez, já com mais uma filha e o diploma na mão.