Quase todo o dia 25 de abril de 1974 de Artur Santos Silva, hoje presidente do BPI e da Fundação Calouste Gulbenkian, foi passado em casa de Francisco Sá Carneiro. Portuenses, amigos e vizinhos, acompanharam tudo pela televisão e, ainda, em contacto telefónico com Francisco Pinto Balsemão e Marcelo Rebelo de Sousa, no "Expresso".
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"Foi uma irmã minha quem primeiro me disse, pelo telefone, pois trabalhava no consulado dos Estados Unidos e tinham-na avisado de que havia um golpe militar", conta. O primeiro impulso que teve foi ir trabalhar. Era diretor no Banco Português do Atlântico, e "havia que preparar o 'day after' para o caso de se consumar a mudança de regime".
Almoçou com os pais e com eles celebrou. "Para mim era um momento especial, mas então para o meu pai, que foi tantas vezes perseguido e preso..." (Artur Santos Silva, o pai, tinha, por exemplo, impulsionado a campanha de Humberto Delgado, em 1958). Foi depois de almoço que, ao decidir atestar o depósito, numa bomba junto a casa de Sá Carneiro, viu o carro deste estacionado (ambos tinham Renault 16) e decidiu bater-lhe à porta.
Envolvido na SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social havia alguns anos, tinha também estado na Ação Socialista, mas, quando o PS foi fundado, achou o programa um pouco radical. Veio a estar com o PPD desde a primeira hora. Apresentou a Sá Carneiro pessoas como Mota Pinto ou Barbosa de Melo, e participou, na Curia, na reunião que definiu as linhas programáticas do partido. Mas recusou sempre cargos políticos, dando prioridade à vida profissional.
À vida política de agora, contrapõe que, nesse tempo, "as pessoas dos partidos tinham a sua vida e eram pessoas com vida destacada: professores, profissionais liberais...". "Tudo o que faziam, era como cidadãos", remata.