Má experiência com ensino à distância na escola pública motivou corrida. Há quem tenha mil alunos em lista de espera.
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A procura por colégios privados disparou no arranque deste ano letivo depois de um 2.º e um 3.º períodos atípicos. Desiludidos com a experiência de ensino à distância nas escolas públicas e com receio de um novo confinamento, os pais procuraram o ensino privado. Há colégios com mil alunos em lista de espera sem conseguir dar resposta a tantas inscrições.
Do Norte ao Sul do país, as escolas privadas relatam listas de espera e o aumento da procura, sobretudo no 1.º ciclo e no Secundário. Nalguns casos, por parte de alunos que habitualmente frequentavam o público. A resposta dada pelo ensino privado nas aulas online parece ser a grande motivação.
Segundo António Sarmento, diretor do colégio Planalto, em Lisboa, "o aumento da procura é um facto". "O curioso é que não foi nas datas habituais. A partir de junho e julho, começaram a aparecer novos candidatos, numa altura em que já não consideramos novas entrevistas. O período de admissão habitual fecha em março". Receberam inscrições de alunos de outros colégios e do público. "E sentimos uma coisa que é muito rara que é a procura a meio de ciclos. Um novo aluno para o 8.º ano não é habitual", afirmou ao JN.
O colégio Valsassina, também em Lisboa, subscreve. "Temos lista de espera em quase todos os níveis de ensino, sendo de destacar para o 1.º e o 3.º ciclos e, em particular, no Ensino Secundário", explica João Gomes, diretor pedagógico.
o que argumentam os pais
As motivações apontadas pelos pais, diz, passaram a incluir um novo argumento: "O conhecimento que tiveram da resposta dada pelo colégio nos últimos meses, designadamente o facto de os alunos não terem tido interrupção no processo de ensino-aprendizagem, mantendo o horário, as rotinas, as tarefas e as avaliações, assim como no acompanhamento tutorial em modelo de ensino à distância". Ou seja, a forma individualizada de trabalho com cada aluno no confinamento.
preocupação com notas
Ainda na capital, o colégio Manuel Bernardes sentiu o aumento apenas no Secundário, devido à maior preocupação "com as notas, as médias e a preparação para a faculdade", afirma a secretária da administração Ana Luz. Por outro lado, a redução da lotação das turmas também contribuiu para o crescimento da lista de espera. Nem as propinas - que variam entre os 400 e, em alguns casos, 600 euros - demoveram os pais.
No Norte, o fenómeno também se verifica. Os Salesianos do Porto tiveram mais inscrições. "Mas também diversificámos a oferta curricular e aumentámos o pré-escolar", justifica o diretor José Cordeiro.
Há casos, como o do Colégio João Paulo II, em Braga, com mil alunos em espera, mesmo depois de ter inaugurado uma nova unidade no ano passado. "E os pais continuam a ligar", diz o administrador, Mário Paulo Pereira. "Acredito que a instabilidade no ensino público e os cuidados com a pandemia levaram a isto", afirma.
A procura desenfreada parece ser transversal na Cidade dos Arcebispos, onde o Colégio D. Diogo de Sousa deixou de fora mais de 400 alunos. "No ensino à distância, cumprimos escrupulosamente as aulas e isso foi positivo", refere o administrador, António Araújo. Argumento subscrito pelo Colégio Teresiano, que rapidamente compensou a saída de vinte alunos, consequência da perda de rendimentos dos pais.
"Completámos estas vinte vagas e ainda tivemos de recusar matrículas no 1.º ciclo", conta a diretora, Maria Conceição Oliveira, que salienta que "houve pais do público que quiseram mudar os filhos para o privado, por causa de o ensino à distância não ter corrido bem". Confrontado pelo JN, o Ministério da Educação não reagiu.