O presidente da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP) defendeu esta quarta-feira no Parlamento que os colégios querem maior liberdade e autonomia para contratar mais licenciados. A habilitação própria, considera Luís Virtuoso, "é suficiente". Os colégios querem também poder reorganizar os tempos letivos para atribuírem aos alunos mais trabalho autónomo, isto é, aulas online.
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"Deixem-nos trabalhar", apelou o presidente da AEEP aos deputados da Comissão de Educação que integram o grupo de trabalho de acompanhamento do Plano de Recuperação das Aprendizagens. Luís Virtuoso aproveitou a audição para transmitir um problema que o "preocupa imenso": os requisitos legais exigidos para a docência. Sem nunca assumir se os colégios também se deparam, como as escolas públicas, com falta de professores, o presidente da AEEP defendeu o reforço da contratação de licenciados, sem mestrado em ensino
Luís Virtuoso referiu que os colégios, por vezes, convidam antigos alunos para darem aulas isoladas, que "se revelam gente com magníficas intervenções" que acabam "todos" por gostar da experiência mas os estabelecimentos têm limites à sua contratação.
"As habilitações próprias são suficientes. Com a experiência de vida que esta gente tem é abrir a escola. Dar-lhes mundo", defendeu aos deputados, assegurando que os colégios procuram "os melhores" para os seus quadros até porque depois têm de responder perante os pais. Em todo o caso, afirmou, se houver necessidade de formação "os professores dos nossos departamentos são muito capazes".
Alunos com mais trabalho autónomo
O presidente da AEEP queixou-se da "redobrada ânsia" do ministério da Educação "em controlar os colégios". Luís Virtuoso insurgiu-se contra apoios aprovados apenas para o ensino público, como os programas de manuais ou de distribuição de computadores, que classificou de "injustiça" por nem todos os alunos que frequentam o ensino privado serem ricos.
Já o diretor-executivo da AEEP defendeu mais autonomia para os colégios poderem reorganizar os tempos letivos. "Deixem-nos reorganizar o tempo e espaço", pediu Rodrigo Queirós e Melo.
Uma das lições da pandemia, referiu o diretor-executivo da AEEP, foi a capacidade de trabalho autónomo dos alunos. Pelo que, questionou, qual é a "varinha mágica que o ministério da Educação tem para dizer que os alunos devem ter cinco aulas de Matemática em sala de aula por semana para aprenderem?". "A pandemia mostrou que não é" assim, afirmou, argumentando que esse tempo pode ser reorganizado de modo a que uns possam ter mais tempo autónomo ou online e os professores dedicar, por exemplo, mais tempo aos alunos que têm mais dificuldades.
Viver em "bolha" e não "no mundo real"
Sem especificar nenhuma medida, Rodrigo Queirós e Melo defendeu "formas de tornar" os alunos dos colégios "mais heterogéneos". No final da audição, Luís Virtuoso sublinhou que com o corte nos contratos de associação de mais de 100 estabelecimentos para 20, "criou-se uma bolha" e os alunos dos colégios "perderam mundo" e vivem num que "não é real".
Nenhum dos cinco deputados presentes na audição questionaram os dirigentes da AEEP sobre a falta de professores no ensino privado e as mudanças nos requisitos que defendem para a contratação. Gabriel Mithá Ribeiro afirmou concordar "em absoluto" com os argumentos defendidos ao nível da "liberdade e formação de professores". "Podia haver transferência de medidas bem-sucedidas para o público e não viver-se em dois mundos", defendeu o deputado do Chega.
Carla Castro, do Iniciativa Liberal, afirmou que "há uma demonização do ensino privado", defendeu uma avaliação externa "bastante rigorosa" e perguntou qual a posição da AEEP relativamente às provas de aferição digitais no 2.º ano.
O socialista Agostinho Santa questionou se a AEEP considera que o Plano de Recuperação das Aprendizagens "deve continuar nos mesmos termos" e se os colégios recorreram a instrumentos de apoio do Ministério da Educação. Já Cláudia André, do PSD, perguntou pelos apoios, metodologias aplicadas.
Luís Virtuoso sublinhou, logo na intervenção inicial, que de acordo com o levantamento feito entre os associados, os colégios sinalizam um agravamento nos problemas psicossociais dos alunos dos mais novos ao Secundário. Quanto às perdas nas aprendizagens, com certeza haverá, admitiu, mas a AEEP "não consegue quantificar". Por isso, referiu, aguarda os resultados do segundo estudo de diagnóstico feito pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) e pelas avaliações internacionais, PISA e TIMMS, para esclarecer o impacto. Defendeu que as provas de aferição a meio dos ciclos "é um erro" e que com o fim dos exames deveriam antes realizar-se no 4.º e 6.º anos.